quinta-feira, 18 de novembro de 2010

15º e 16º Capítulo

15 - Amando

  Ela desistiu de ter uma discussão comigo. - O que me poupou tempo - Fábio voltou da cozinha.
  - E então? Há mais coisas para fazer além de dançar?
  - Bem... Há um monte de coisas para se fazer lá fora.
  - Por exemplo?
  - Melhor ver com seus próprios olhos.
  Levei-o até um pequeno lugar onde meu pai colocou alguns alvos e tinha dois arco e flechas.
  - Sabe atirar? - Perguntei pegando o arco - Tentei aprender, mas sou péssima.
  - Sei. Era o meu hobbie antigamente.
  - Que tal ensinar essa cabeça dura? Olhe que eu não sou boa aluna.
  - Nem eu bom professor. Agora vamos lá, mas eu não prometo milagres.
  - Só assim para eu poder aprender alguma coisa.
  - Tudo bem. - Ele colocou o arco e a flecha na minha mão - Pelo menos sabe encaixar?
  - Essa é a única coisa que eu aprendi. - Encaixei a flecha e puxei.
  - Certo. Agora deixe o braço em que você vai soltar a flecha alinhado com o seu ombro. - Ele endireitou meu cotovelo - Assim!
  Fingi parecer despreocupada com o seu toque.
  - Mire no alvo, puxe mais. Isso! Está apontando para o meio do alvo?
  - Sim.
  - Então quando estiver certeza de que não vai errar, pode soltar.
  Fiquei meio insegura, então atirei de qualquer jeito. - A flecha caiu na metade do caminho até o alvo.
  - Eu disse que não era boa aluna.
  - É que você não puxou com força, e ainda não teve segurança. Deixe eu te ajudar. - Ele colocou as mãos sobre as minhas e me ajudou a ficar na posição certa.
  Espero que ele não tenha visto como eu fiquei vermelha.
  - Tudo bem, agora você vai soltar a flecha do mesmo jeito que eu a deixe, entendeu? - Retirou as mãos.
  - Por parte.
  Seu rosto estava tão perto, que eu não consegui me concentrar. - Soltei a flecha de qualquer jeito mais uma vez, e nem olhei para onde ela tinha ido - Virei e olhei seu rosto.
  - Nada mau para uma principiante. - apontou o alvo.
  Eu tinha acertado a ponta do alvo. - Um progresso maior do que eu esperava.
  - Já é alguma coisa. - murmurei - E você consegue fazer melhor?
  - É claro que sim! - Ele pegou seu arco, apontou e soltou. Foi parar bem no meio do alvo - Gostou?
  - Se queria mostrar seu talento eu gostei, mas se queria me mostrar o quanto sou ruim...
  - Tem gente que nem consegue chegar perto do alvo e você está reclamando?
  - Estou parecendo um bebê chorando, não estou?
  - Bebê não, mas que parece uma chorona você parece.
  - Tudo bem, chega de arco e flecha por hoje!
  - Só por que eu estava me divertindo tanto?
  - Que bom que divirto você. Mas eu já não estou boa para uma principiante? Já tive o suficiente por um dia.
  - Se quer assim. O que mais tem para fazer?
  - Estou bem cansada, eu vou assistir TV na sala e você?
  - Preciso me atualizar no mundo que existe além do nosso. Vamos!
  Andamos despreocupadamente, até que ele segurou minha mão. - Decidi não fazer nada - Minha mãe não estava na sala para poder implicar comigo, Emily tinha acabado de chegar e foi acordar a Giuliani.
  - Bem, parece que o pessoal está querendo nos deixar sozinhos. - Observei - Não é muito a cara deles.
  - Talvez só estejam sendo educados.
  - Nem você acredita nessa, pelo amor de Deus.
  - Tudo bem, só queria te deixar mais calma.
  - Eu estou calma!
  - Não parece.
  - Você está enganado!
  - Eu te conheço.
  - Estou vendo que não conhece muito bem. - Ralhei.
  - Viu? Você está irritada!
  - Você é um idiota!
  - Já ouvi coisas piores do que essa de pessoas irritadas.
  - Se você não calar a boca eu vou dizer coisa muito pior do que você já ouviu.
  - Tudo bem. Agora se acalme.
  Sentei no sofá e liguei a TV. Para a minha grande sorte, era uma reportagem sobre o nosso filme.
  "Os protagonistas do filme, Alice Costa e Fábio Castro foram fotografados se beijando em um hospital particular do centro. Será que estão namorando?"
  E apareceu a foto.
  - Viu o que você fez? - Agora eu estava irritada - Se não fosse tão idiota de me beijar, não teria saído essa notícia. Satisfeito?
  - Por que tanto alvoroço? Eu até gostei da parte do "namorando"!
  - Não provoque! E o pior de tudo é que não estamos namorando.
  - Se dependesse de mim...
  - Estaríamos de aliança na mão! Desculpe, mas isso não vai acontecer.
  - Já está pensando em casamento? Eu só estava pensando em namoro, já que você não quer nem me beijar...
  - Ta legal, acabou o assunto.
  - Como quiser. - Ele me puxou para perto dele - Amanhã eu volto. - me beijou - Tchau.
  - Tchau. - murmurei.
  Logo depois de ele ter atravessado a porta, Giuliani bateu palmas atrás de mim.
  - Vocês formam um casal lindo!
  - Não somos um casal, ele que é um idiota e me beijou sem a minha permissão.
  - Emily já me contou tudo. Não precisa mentir para mim.
  - Você é bem espertinha, viu?
  - Isso eu já sei há muito tempo. E aí? Por que não estão namorando? O perdão não incluía isso?
  - Não! A confiança é uma parte importante do amor, e isso não está incluído entre nós.
  - Tudo bem, não vou discutir. Mas... - Ela indicou que eu fosse para perto dela, eu fui - Você deveria dar uma chance, ele parece que gosta muito de você.
  - Disso eu não tenho dúvidas.
  - Então?
  - Confiança! - Repeti - Agora pare de se meter aonde não deve, você está ficando muito bisbilhoteira.
  - É meu dom!
  - Então você e seu dom vão dormir por que já está tarde. Amanhã vou começar a aprontar as coisas da sua festa.
  - Eu não quero nada grande.
  - Por quê? Não é todo dia que uma menina faz 14 anos.
  - Mesmo assim. Só quero que venha seus melhores amigos, incluindo o Fábio.
  - Com certeza ele não ia perder sua festa.
  - Será que ele vai trazer seus pôsteres?
  - Tenho certeza. Agora vamos? Eu te levo!
  - Ta legal.
  A coloquei na cama.
  - Pense no que eu falei. - Afagou meu rosto - Você merece ser feliz!
  Perdi as contas de quem já me disse isso, ela também não!
  - Vou pensar. - Menti - Agora durma. Boa noite.
  - Boa noite para você também.
  Apaguei a luz e fui embora.
  A campainha tocou e eu fui atender. Era o Fábio.
  - Esqueceu alguma coisa?
  - Sim. Vim lhe trazer isso. - Me entregou uma rosa vermelha - Olhe para ela quando se sentir sozinha e se lembre de mim, mas... - Ele pegou mais duas rosas e me entregou - Para o caso de você se sentir sozinha mais vezes.
  - Só isso?
  - Sim!
  Fechei a porta, mas ele tocou a campainha de novo.
  Desta vez ele segurava um buquê de rosas.
  - Acho que estas daqui vão querer te fazer companhia também! Elas estavam tão solitárias, então decidi trazê-las para você!
  - Acho que nunca mais vou me sentir sozinha. Elas são lindas.
  - Por isso são como você!
  E foi quando vi, parecia um pingo de leite no meio do café: tirei um fio de cabelo branco de sua cabeça.
  - Parece que alguém está ficando velho. - Comecei a rir.
  - Tenho trinta anos, já estava na hora de aparecer um. - Tentou disfarçar a preocupação - Até amanhã!
  - Até amanhã.
  Fechei a porta mais uma vez, mas ele tocou a campainha de novo.
  - O que é dessa vez? Mais flores?
  - Não. Só mais uma coisa para se lembrar de mim. - Me beijou - Até amanhã.
  Esperei ele tocar a campainha mais uma vez, mas isso não aconteceu. Fui para o meu quarto, coloquei as flores num vazo com água e me lancei na cama.
  Nesse momento eu podia gritar para o mundo sem medo: EU AMO O FÁBIO! - Amanhã seria um longo dia.

16 - Eu te Amo

  Domingo era o meu dia preferido, pois, como o sábado, não tinha filmagem. Acordei quase no horário de almoço de tamanho cansaço. Giuliani fez questão de trazer meu almoço na cama, com mamãe a empurrando na cadeira.
  - Não precisava Giuli. Eu mesma ia descer agora mesmo.
  - Eu sei que não precisava, mas eu quis!
  - Certo, eu sei que não tem sentido discutir com você...
  - Isso mesmo.
  - A Emily ainda está dormindo?
  - Não. Ela está lá na cozinha almoçando junto com a mamãe. Por quê?
  - Preciso conversar com ela.
  - Quando ela terminar de comer, eu aviso que quer falar com ela.
  - Obrigada.
  - Mãe? Me leva! Lá para baixo!
  - Agora eu virei guia turístico. - Sussurrou para mim - Vamos senhorita!
  Depois de alguns minutos, Emily apareceu.
  - O que foi mãe?
  - Eu só queria saber como estão indo as investigações para encontrar seu pai!
  - O detetive está tendo um pouco de dificuldade, mas acha que vai conseguir localizá-lo.
  - Posso conversar com ele? Quero saber exatamente em que pé está a investigação!
  - Sim. Eu vou ligar para ele e ver se está livre hoje.
  - Obrigada.
  Terminei de comer e levei tudo para a cozinha.
  - Quem te deu aquelas flores que estão no seu quarto? - Minha mãe perguntou quando ficamos sozinhas.
  - O Fábio!
  - Era de se imaginar...
  - Se vai começar a implicar com isso de novo é melhor parar por aí.
  - Só não quero que se magoe de novo.
  - Pode deixar que eu lido com isso muito bem, não vai ser a primeira vez que tento superar uma mágoa por amor, então chega desse assunto.
  - Devia me ouvir, já passei por muito mais coisas do que você.
  - Não precisa me lembrar de seus vinte anos a mais de experiência. Estou cansada de ouvir isso.
  - Pois devia ouvir de novo, não quero ver você fazendo escolhas erradas.
  - Então me deixe fazer minhas escolhas erradas sozinha! Se eu não errar algumas vezes como vou aprender um pouco mais sobre a vida? Chega! - Subi de volta para o meu quarto.
  Tomei um banho, troquei de roupa, e fui para o jardim.
  Nem sei quantas horas fiquei sentada admirando as estátuas, pois Fábio apareceu.
  - Essas estátuas são realmente bonitas. - Disse se sentando ao meu lado - Podem dar bons esconderijos.
  - Esconde-esconde? Inventa outra.
  - Às vezes é bom voltar a infância. - Me puxou para a grama.
  - Não acredito que está me obrigando a isso.
  - Você se esconde e eu procuro.
  - Está falando sério?
  - Mas é claro que sim! Vou contar até cem.
  Me sentindo uma idiota, me escondi atrás da estátua mais distante dele. Quando ele gritou "LÁ VOU EU", comecei a procurar onde ele estava, mas não o encontrei. Fiquei escondida sem ao menos respirar direito, até que...
  - BU!
  Pulei de susto.
  - Te encontrei! Te encontrei!
  - Agora tente me pegar! - Saí correndo.
  Ele conseguiu me alcançar dois minutos depois.
  - Peguei! Peguei! - Me pegou pela cintura.
  Ele virou meu corpo para eu ficar de frente para ele.
  - Tudo bem, você me pegou. Agora me solte.
  - Eu não vou te soltar. - Me pegou no colo e saiu correndo até a piscina e pulou.
  - Não acredito que você fez isso!
  - Não se preocupe, eu planejei, trouxe uma roupa a mais. Está na bolsa que eu deixei onde estávamos sentados.
  - Está dando uma de espertinho? Hoje eu não vou tolerar tão facilmente, ouviu?
  - Tudo bem, senhora capitã! - Bateu continência - Estou aqui para fazer suas vontades.
  - Então a minha vontade é de que você fique bem quietinho e se comporte.
  - Essa tarefa é impossível senhora!
  - De qualquer jeito trate de cumpri-la, ou senão vai haver uma guerra!
  - De quem joga mais água? - Começou a tacar água em mim sem parar - Seu desejo é uma ordem!
  - Pare! Pare agora!
  Quando finalmente parou de jogar água, soltou um monte de risadas.
  - Deixa de ser palhaço, vamos sair dessa piscina já.
  Ele saiu da piscina e depois me puxou para fora.
  - Devia ser mais delicado.
  - Me desculpe, é que às vezes eu não consigo controlar minha força.
  - Quem vê pensa que você é o homem mais forte do mundo!
  - Posso não ser, mas mesmo assim posso admitir que sou forte.
  - Disso eu não tenho dúvidas. Agora eu vou lá para cima me trocar, e você vai se trocar também, não quero resfriados por aqui!
  - Tudo bem!
  Ele pegou sua bolsa lá no jardim, e depois fomos para dentro.
  - Ninguém vai pegar gripe, eu sou forte como um cavalo, e você eu duvido que fique doente.
  - Por que duvida?
  - Por que você parece muito forte.
  - A minha sorte é que sou. Mas é melhor prevenir do que remediar.
  - Concordo.
  Me sequei, coloquei uma roupa seca, e fiquei esperando ele trocar de roupa no quarto de hóspedes. - Ele demorou um pouco, mas consegui ser paciente.
  - Bem, o que quer fazer agora? - Perguntei enquanto descíamos para a sala.
  - Eu estava pensando em te levar na praia.
  - Para todo mundo ver nós dois juntos? Nem pensar! Já não basta o estardalhaço que nosso beijo causou...
  - Não agora, de noite, quando ela estiver vazia.
  - Até que eu estou gostando da idéia, já que ser vista em público não está incluído nessa aventura.
  - Aventura?
  - Nunca se sabe o que se vai encontrar numa praia. Por isso eu gosto de ir em todas.
  - Então está combinado?
  - Claro. Mas agora vamos ter que arranjar outra coisa para ocupar o tempo!
  E acabamos optando pela TV no final das contas. Era o nosso "passatempo" preferido - E sem graça - que sempre acaba por nos conquistar.
  A noite na praia, ficamos andando sem rumo por umas três horas, não tivemos coragem de entrar na água. Enrolamos ao ver um barco ao longe, mas depois voltamos para a casa.
  - Foi divertido, e a areia estava gelada. - Comentei - Meu pé está todo sujo.
  - O meu também. - Riu - Não é possível ir a uma praia e não ficar com o pé sujo de areia.
  - Disso eu sei, mas ainda assim é ruim.
  Ele balançou a cabeça e foi lavar o pé. - Segui o seu exemplo.
  Ao lavar nossos pés, ele começou a jogar água em mim.
  - Hei. Para com isso. - Coloquei as mãos na frente do rosto para me proteger - Não me mole mais uma vez, vai ser a terceira vez que troco de roupa.
  - Tudo bem.
  Por sorte ele não tinha molhado minha roupa, assim não fiquei brava.
  - Qualquer hora eu perco a cabeça e fico irritada de verdade com você.
  - Vou esperar para ver.
  - A cara é sua!
  - E a dignidade também!
  - Vai dormir aqui? Já são onze horas! - Escondi a expectativa.
  - Só vou ficar se você quiser se não...
  - Eu quero! - Onde foi parar a parte de "esconder a expectativa"? - Esta casa está bem chata ultimamente!
  - Como quiser! Vou colocar minha mochila no quarto de hóspedes.
  - Vou ficar lá na sala.
  - Certo.
  Desci quase pulando de alegria. Alguns minutos depois ele voltou.
  - Está bem instalado?
  - Já me familiarizei com o quarto, somos amigos!
  - Que bom. - Abafei o riso.
  A TV tomou conta da nossa atenção apenas por alguns minutos, ele desligou a TV e apagou a luz para subirmos para o quarto, quando sentamos na cama, ficamos nos olhando como dois adolescentes apaixonados. - Ainda me custava admitir que o amava, e me atormentava a lembrança de eu ter lhe dito isso apenas uma vez.
  Nessa hora o sono começou a me tomar.

  Há mais coisas na vida do que pensamos... Há o amor, a esperança e o desejo de ser feliz. Temos um determinado tempo para vivermos todas essas coisas, mas nem sempre é o suficiente.
  Cada escolha que fazemos tem uma conseqüência, mas eu sei de qual eu não me arrependo! O medo e a insegurança me impediram de ser feliz por muito tempo... Tantas coisas atropelaram esse amor, e agora me vejo com esse sentimento nas mãos e que a qualquer hora pode escorregar pelos meus dedos.
  As palavras estavam presas na minha garganta, mas já estava na hora de dizer:
  - Eu te amo!
  Ele sorriu no silêncio da escuridão e disse:
  - Levou tanto tempo para descobrir o que eu já sabia? - Acariciou meu rosto - Eu também te amo! Você é tudo o que me importa!
  - Para sempre. - murmurei e me afundei no paraíso dos meus sonhos.