quinta-feira, 18 de novembro de 2010

15º e 16º Capítulo

15 - Amando

  Ela desistiu de ter uma discussão comigo. - O que me poupou tempo - Fábio voltou da cozinha.
  - E então? Há mais coisas para fazer além de dançar?
  - Bem... Há um monte de coisas para se fazer lá fora.
  - Por exemplo?
  - Melhor ver com seus próprios olhos.
  Levei-o até um pequeno lugar onde meu pai colocou alguns alvos e tinha dois arco e flechas.
  - Sabe atirar? - Perguntei pegando o arco - Tentei aprender, mas sou péssima.
  - Sei. Era o meu hobbie antigamente.
  - Que tal ensinar essa cabeça dura? Olhe que eu não sou boa aluna.
  - Nem eu bom professor. Agora vamos lá, mas eu não prometo milagres.
  - Só assim para eu poder aprender alguma coisa.
  - Tudo bem. - Ele colocou o arco e a flecha na minha mão - Pelo menos sabe encaixar?
  - Essa é a única coisa que eu aprendi. - Encaixei a flecha e puxei.
  - Certo. Agora deixe o braço em que você vai soltar a flecha alinhado com o seu ombro. - Ele endireitou meu cotovelo - Assim!
  Fingi parecer despreocupada com o seu toque.
  - Mire no alvo, puxe mais. Isso! Está apontando para o meio do alvo?
  - Sim.
  - Então quando estiver certeza de que não vai errar, pode soltar.
  Fiquei meio insegura, então atirei de qualquer jeito. - A flecha caiu na metade do caminho até o alvo.
  - Eu disse que não era boa aluna.
  - É que você não puxou com força, e ainda não teve segurança. Deixe eu te ajudar. - Ele colocou as mãos sobre as minhas e me ajudou a ficar na posição certa.
  Espero que ele não tenha visto como eu fiquei vermelha.
  - Tudo bem, agora você vai soltar a flecha do mesmo jeito que eu a deixe, entendeu? - Retirou as mãos.
  - Por parte.
  Seu rosto estava tão perto, que eu não consegui me concentrar. - Soltei a flecha de qualquer jeito mais uma vez, e nem olhei para onde ela tinha ido - Virei e olhei seu rosto.
  - Nada mau para uma principiante. - apontou o alvo.
  Eu tinha acertado a ponta do alvo. - Um progresso maior do que eu esperava.
  - Já é alguma coisa. - murmurei - E você consegue fazer melhor?
  - É claro que sim! - Ele pegou seu arco, apontou e soltou. Foi parar bem no meio do alvo - Gostou?
  - Se queria mostrar seu talento eu gostei, mas se queria me mostrar o quanto sou ruim...
  - Tem gente que nem consegue chegar perto do alvo e você está reclamando?
  - Estou parecendo um bebê chorando, não estou?
  - Bebê não, mas que parece uma chorona você parece.
  - Tudo bem, chega de arco e flecha por hoje!
  - Só por que eu estava me divertindo tanto?
  - Que bom que divirto você. Mas eu já não estou boa para uma principiante? Já tive o suficiente por um dia.
  - Se quer assim. O que mais tem para fazer?
  - Estou bem cansada, eu vou assistir TV na sala e você?
  - Preciso me atualizar no mundo que existe além do nosso. Vamos!
  Andamos despreocupadamente, até que ele segurou minha mão. - Decidi não fazer nada - Minha mãe não estava na sala para poder implicar comigo, Emily tinha acabado de chegar e foi acordar a Giuliani.
  - Bem, parece que o pessoal está querendo nos deixar sozinhos. - Observei - Não é muito a cara deles.
  - Talvez só estejam sendo educados.
  - Nem você acredita nessa, pelo amor de Deus.
  - Tudo bem, só queria te deixar mais calma.
  - Eu estou calma!
  - Não parece.
  - Você está enganado!
  - Eu te conheço.
  - Estou vendo que não conhece muito bem. - Ralhei.
  - Viu? Você está irritada!
  - Você é um idiota!
  - Já ouvi coisas piores do que essa de pessoas irritadas.
  - Se você não calar a boca eu vou dizer coisa muito pior do que você já ouviu.
  - Tudo bem. Agora se acalme.
  Sentei no sofá e liguei a TV. Para a minha grande sorte, era uma reportagem sobre o nosso filme.
  "Os protagonistas do filme, Alice Costa e Fábio Castro foram fotografados se beijando em um hospital particular do centro. Será que estão namorando?"
  E apareceu a foto.
  - Viu o que você fez? - Agora eu estava irritada - Se não fosse tão idiota de me beijar, não teria saído essa notícia. Satisfeito?
  - Por que tanto alvoroço? Eu até gostei da parte do "namorando"!
  - Não provoque! E o pior de tudo é que não estamos namorando.
  - Se dependesse de mim...
  - Estaríamos de aliança na mão! Desculpe, mas isso não vai acontecer.
  - Já está pensando em casamento? Eu só estava pensando em namoro, já que você não quer nem me beijar...
  - Ta legal, acabou o assunto.
  - Como quiser. - Ele me puxou para perto dele - Amanhã eu volto. - me beijou - Tchau.
  - Tchau. - murmurei.
  Logo depois de ele ter atravessado a porta, Giuliani bateu palmas atrás de mim.
  - Vocês formam um casal lindo!
  - Não somos um casal, ele que é um idiota e me beijou sem a minha permissão.
  - Emily já me contou tudo. Não precisa mentir para mim.
  - Você é bem espertinha, viu?
  - Isso eu já sei há muito tempo. E aí? Por que não estão namorando? O perdão não incluía isso?
  - Não! A confiança é uma parte importante do amor, e isso não está incluído entre nós.
  - Tudo bem, não vou discutir. Mas... - Ela indicou que eu fosse para perto dela, eu fui - Você deveria dar uma chance, ele parece que gosta muito de você.
  - Disso eu não tenho dúvidas.
  - Então?
  - Confiança! - Repeti - Agora pare de se meter aonde não deve, você está ficando muito bisbilhoteira.
  - É meu dom!
  - Então você e seu dom vão dormir por que já está tarde. Amanhã vou começar a aprontar as coisas da sua festa.
  - Eu não quero nada grande.
  - Por quê? Não é todo dia que uma menina faz 14 anos.
  - Mesmo assim. Só quero que venha seus melhores amigos, incluindo o Fábio.
  - Com certeza ele não ia perder sua festa.
  - Será que ele vai trazer seus pôsteres?
  - Tenho certeza. Agora vamos? Eu te levo!
  - Ta legal.
  A coloquei na cama.
  - Pense no que eu falei. - Afagou meu rosto - Você merece ser feliz!
  Perdi as contas de quem já me disse isso, ela também não!
  - Vou pensar. - Menti - Agora durma. Boa noite.
  - Boa noite para você também.
  Apaguei a luz e fui embora.
  A campainha tocou e eu fui atender. Era o Fábio.
  - Esqueceu alguma coisa?
  - Sim. Vim lhe trazer isso. - Me entregou uma rosa vermelha - Olhe para ela quando se sentir sozinha e se lembre de mim, mas... - Ele pegou mais duas rosas e me entregou - Para o caso de você se sentir sozinha mais vezes.
  - Só isso?
  - Sim!
  Fechei a porta, mas ele tocou a campainha de novo.
  Desta vez ele segurava um buquê de rosas.
  - Acho que estas daqui vão querer te fazer companhia também! Elas estavam tão solitárias, então decidi trazê-las para você!
  - Acho que nunca mais vou me sentir sozinha. Elas são lindas.
  - Por isso são como você!
  E foi quando vi, parecia um pingo de leite no meio do café: tirei um fio de cabelo branco de sua cabeça.
  - Parece que alguém está ficando velho. - Comecei a rir.
  - Tenho trinta anos, já estava na hora de aparecer um. - Tentou disfarçar a preocupação - Até amanhã!
  - Até amanhã.
  Fechei a porta mais uma vez, mas ele tocou a campainha de novo.
  - O que é dessa vez? Mais flores?
  - Não. Só mais uma coisa para se lembrar de mim. - Me beijou - Até amanhã.
  Esperei ele tocar a campainha mais uma vez, mas isso não aconteceu. Fui para o meu quarto, coloquei as flores num vazo com água e me lancei na cama.
  Nesse momento eu podia gritar para o mundo sem medo: EU AMO O FÁBIO! - Amanhã seria um longo dia.

16 - Eu te Amo

  Domingo era o meu dia preferido, pois, como o sábado, não tinha filmagem. Acordei quase no horário de almoço de tamanho cansaço. Giuliani fez questão de trazer meu almoço na cama, com mamãe a empurrando na cadeira.
  - Não precisava Giuli. Eu mesma ia descer agora mesmo.
  - Eu sei que não precisava, mas eu quis!
  - Certo, eu sei que não tem sentido discutir com você...
  - Isso mesmo.
  - A Emily ainda está dormindo?
  - Não. Ela está lá na cozinha almoçando junto com a mamãe. Por quê?
  - Preciso conversar com ela.
  - Quando ela terminar de comer, eu aviso que quer falar com ela.
  - Obrigada.
  - Mãe? Me leva! Lá para baixo!
  - Agora eu virei guia turístico. - Sussurrou para mim - Vamos senhorita!
  Depois de alguns minutos, Emily apareceu.
  - O que foi mãe?
  - Eu só queria saber como estão indo as investigações para encontrar seu pai!
  - O detetive está tendo um pouco de dificuldade, mas acha que vai conseguir localizá-lo.
  - Posso conversar com ele? Quero saber exatamente em que pé está a investigação!
  - Sim. Eu vou ligar para ele e ver se está livre hoje.
  - Obrigada.
  Terminei de comer e levei tudo para a cozinha.
  - Quem te deu aquelas flores que estão no seu quarto? - Minha mãe perguntou quando ficamos sozinhas.
  - O Fábio!
  - Era de se imaginar...
  - Se vai começar a implicar com isso de novo é melhor parar por aí.
  - Só não quero que se magoe de novo.
  - Pode deixar que eu lido com isso muito bem, não vai ser a primeira vez que tento superar uma mágoa por amor, então chega desse assunto.
  - Devia me ouvir, já passei por muito mais coisas do que você.
  - Não precisa me lembrar de seus vinte anos a mais de experiência. Estou cansada de ouvir isso.
  - Pois devia ouvir de novo, não quero ver você fazendo escolhas erradas.
  - Então me deixe fazer minhas escolhas erradas sozinha! Se eu não errar algumas vezes como vou aprender um pouco mais sobre a vida? Chega! - Subi de volta para o meu quarto.
  Tomei um banho, troquei de roupa, e fui para o jardim.
  Nem sei quantas horas fiquei sentada admirando as estátuas, pois Fábio apareceu.
  - Essas estátuas são realmente bonitas. - Disse se sentando ao meu lado - Podem dar bons esconderijos.
  - Esconde-esconde? Inventa outra.
  - Às vezes é bom voltar a infância. - Me puxou para a grama.
  - Não acredito que está me obrigando a isso.
  - Você se esconde e eu procuro.
  - Está falando sério?
  - Mas é claro que sim! Vou contar até cem.
  Me sentindo uma idiota, me escondi atrás da estátua mais distante dele. Quando ele gritou "LÁ VOU EU", comecei a procurar onde ele estava, mas não o encontrei. Fiquei escondida sem ao menos respirar direito, até que...
  - BU!
  Pulei de susto.
  - Te encontrei! Te encontrei!
  - Agora tente me pegar! - Saí correndo.
  Ele conseguiu me alcançar dois minutos depois.
  - Peguei! Peguei! - Me pegou pela cintura.
  Ele virou meu corpo para eu ficar de frente para ele.
  - Tudo bem, você me pegou. Agora me solte.
  - Eu não vou te soltar. - Me pegou no colo e saiu correndo até a piscina e pulou.
  - Não acredito que você fez isso!
  - Não se preocupe, eu planejei, trouxe uma roupa a mais. Está na bolsa que eu deixei onde estávamos sentados.
  - Está dando uma de espertinho? Hoje eu não vou tolerar tão facilmente, ouviu?
  - Tudo bem, senhora capitã! - Bateu continência - Estou aqui para fazer suas vontades.
  - Então a minha vontade é de que você fique bem quietinho e se comporte.
  - Essa tarefa é impossível senhora!
  - De qualquer jeito trate de cumpri-la, ou senão vai haver uma guerra!
  - De quem joga mais água? - Começou a tacar água em mim sem parar - Seu desejo é uma ordem!
  - Pare! Pare agora!
  Quando finalmente parou de jogar água, soltou um monte de risadas.
  - Deixa de ser palhaço, vamos sair dessa piscina já.
  Ele saiu da piscina e depois me puxou para fora.
  - Devia ser mais delicado.
  - Me desculpe, é que às vezes eu não consigo controlar minha força.
  - Quem vê pensa que você é o homem mais forte do mundo!
  - Posso não ser, mas mesmo assim posso admitir que sou forte.
  - Disso eu não tenho dúvidas. Agora eu vou lá para cima me trocar, e você vai se trocar também, não quero resfriados por aqui!
  - Tudo bem!
  Ele pegou sua bolsa lá no jardim, e depois fomos para dentro.
  - Ninguém vai pegar gripe, eu sou forte como um cavalo, e você eu duvido que fique doente.
  - Por que duvida?
  - Por que você parece muito forte.
  - A minha sorte é que sou. Mas é melhor prevenir do que remediar.
  - Concordo.
  Me sequei, coloquei uma roupa seca, e fiquei esperando ele trocar de roupa no quarto de hóspedes. - Ele demorou um pouco, mas consegui ser paciente.
  - Bem, o que quer fazer agora? - Perguntei enquanto descíamos para a sala.
  - Eu estava pensando em te levar na praia.
  - Para todo mundo ver nós dois juntos? Nem pensar! Já não basta o estardalhaço que nosso beijo causou...
  - Não agora, de noite, quando ela estiver vazia.
  - Até que eu estou gostando da idéia, já que ser vista em público não está incluído nessa aventura.
  - Aventura?
  - Nunca se sabe o que se vai encontrar numa praia. Por isso eu gosto de ir em todas.
  - Então está combinado?
  - Claro. Mas agora vamos ter que arranjar outra coisa para ocupar o tempo!
  E acabamos optando pela TV no final das contas. Era o nosso "passatempo" preferido - E sem graça - que sempre acaba por nos conquistar.
  A noite na praia, ficamos andando sem rumo por umas três horas, não tivemos coragem de entrar na água. Enrolamos ao ver um barco ao longe, mas depois voltamos para a casa.
  - Foi divertido, e a areia estava gelada. - Comentei - Meu pé está todo sujo.
  - O meu também. - Riu - Não é possível ir a uma praia e não ficar com o pé sujo de areia.
  - Disso eu sei, mas ainda assim é ruim.
  Ele balançou a cabeça e foi lavar o pé. - Segui o seu exemplo.
  Ao lavar nossos pés, ele começou a jogar água em mim.
  - Hei. Para com isso. - Coloquei as mãos na frente do rosto para me proteger - Não me mole mais uma vez, vai ser a terceira vez que troco de roupa.
  - Tudo bem.
  Por sorte ele não tinha molhado minha roupa, assim não fiquei brava.
  - Qualquer hora eu perco a cabeça e fico irritada de verdade com você.
  - Vou esperar para ver.
  - A cara é sua!
  - E a dignidade também!
  - Vai dormir aqui? Já são onze horas! - Escondi a expectativa.
  - Só vou ficar se você quiser se não...
  - Eu quero! - Onde foi parar a parte de "esconder a expectativa"? - Esta casa está bem chata ultimamente!
  - Como quiser! Vou colocar minha mochila no quarto de hóspedes.
  - Vou ficar lá na sala.
  - Certo.
  Desci quase pulando de alegria. Alguns minutos depois ele voltou.
  - Está bem instalado?
  - Já me familiarizei com o quarto, somos amigos!
  - Que bom. - Abafei o riso.
  A TV tomou conta da nossa atenção apenas por alguns minutos, ele desligou a TV e apagou a luz para subirmos para o quarto, quando sentamos na cama, ficamos nos olhando como dois adolescentes apaixonados. - Ainda me custava admitir que o amava, e me atormentava a lembrança de eu ter lhe dito isso apenas uma vez.
  Nessa hora o sono começou a me tomar.

  Há mais coisas na vida do que pensamos... Há o amor, a esperança e o desejo de ser feliz. Temos um determinado tempo para vivermos todas essas coisas, mas nem sempre é o suficiente.
  Cada escolha que fazemos tem uma conseqüência, mas eu sei de qual eu não me arrependo! O medo e a insegurança me impediram de ser feliz por muito tempo... Tantas coisas atropelaram esse amor, e agora me vejo com esse sentimento nas mãos e que a qualquer hora pode escorregar pelos meus dedos.
  As palavras estavam presas na minha garganta, mas já estava na hora de dizer:
  - Eu te amo!
  Ele sorriu no silêncio da escuridão e disse:
  - Levou tanto tempo para descobrir o que eu já sabia? - Acariciou meu rosto - Eu também te amo! Você é tudo o que me importa!
  - Para sempre. - murmurei e me afundei no paraíso dos meus sonhos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Críticas Semanais

A cada semana farei uma crítica sobre um livro!
Hoje eu vou fazer sobre o livro A Cidade do Sol, Khaled Hosseini.

É uma história sobre duas mulheres que viviam no meio da guerra do Afeganistão. Cada história vem marcada pela dor, amor, perda e solidão.
É um livro lindo, emocionante e tocante!

Ps.: Quem não é fã de histórias antigas (tipo 1970, por aí) não irá gostar muito, mas eu adorei!

domingo, 7 de novembro de 2010

13º 14º Capítulo

13 - A Qualquer Momento

  - Mãe. - choraminguei.
  - O que aconteceu?
  - O Fábio... - e lhe contei toda a história enquanto íamos para o meu quarto.
  - Como... ?
  Eu já sabia qual pergunta ela ia fazer: Como ele foi capaz?
  - Também não sei. - respondi a sua pergunta inacabada.
  Ela, que já estava sofrendo bastante com a morte do meu pai, e eu aqui enchendo mais ainda sua cabeça de problemas. - Mas eu precisava dela.
  - Eu consegui encontrar alguns vídeos do seu pai! - Ela me entregou uma bolsa - Encontrei o os vídeos do trabalho voluntário que ele fazia para os hospitais de Seattle. Você vai gostar de ver.
  - Obrigada, mãe. Vai ajudar um pouco para tirar esses problemas da minha cabeça.
  - Tenho outra novidade.
  - Qual?
  - Sua irmã cansou de ficar no hospital fazendo tratamentos, e quer deixar a vida seguir seu rumo naturalmente. Todos da Fundação de Pesquisa da Progeria quiseram tirar isso da cabeça dela, mas decidi fazer a sua vontade. Ela quer passar seu aniversário de 14 anos aqui com você.
  - Giuliani vai vir para cá? Vai parar de ir ao médico?
  - Ela cansou de tomar remédios, nem estavam adiantando alguma coisa para a doença, então ela decidiu deixar a vida seguir a vontade dela. E ela quer passar o aniversário com a irmã que não vê há muitos meses.
  Giuliani tinha uma doença rara chamada progeria, ou envelhecimento rápido. Ela envelhecia sete anos em um, e sempre foi o meu xodó. A idade máxima para a vida de quem tinha essa doença, era 14 anos, então deve ser por isso que ela quer ficar aqui. - Lágrimas desceram no meu rosto - Ela poderia ter dias, semanas ou meses de vida.
  - Quando ela vai vir para cá? - Enxuguei meu rosto.
  - Daqui a alguns dias. O médico não quer que ela saia do país, mas prefiro fazer as vontades dela.
  - Sim. Faça isso! Ela não merece morrer em um hospital. - Ela não merece nem morrer.
  - É. Acha que pode ficar sozinha por algum tempo? Tenho que me instalar na casa.
  - Claro mãe. Por enquanto, vou ficar vendo os vídeos do pai.
  Ela me abraçou e foi para o outro quarto.
  Coloquei o DVD que minha mãe falou que eu ia gostar. Papai estava todo vestido de palhaço e contando a história da Chapeuzinho Vermelho para as crianças.
  "Pela estrada fora eu vou bem sozinha levar esses doces para a vovozinha." - Cantava a "palhaça" que fazia o papel de Chapeuzinho Vermelho.
  "O que fazes na floresta bela menina?" - Perguntou meu pai que era o lobo mau.
  "Vou levar essa cesta de doces para a minha vovó."
  "Mas por que vais pelo caminho mais curto? Não sabes que há lobos por aqui?"
  "Você é um deles e não tentou me machucar!"
  "Só por que sou bonzinho. Mas você está indo para o lado errado!" - Disse quando Chapeuzinho ia para o outro lado da sala - "Este lado é o mais curto. Você irá chegar mais rápido.”.
  E assim fiquei assistindo os vídeos até pegar no sono.

  Hoje era sábado, então não tenho que passar o sacrifício de ir gravar. Nesse momento eu decidi ser voluntária para as crianças no hospital. - Meu pai ia adorar de onde ele estiver me olhando.
  - Bom dia. - Eu disse a recepcionista.
  - Você é... ?
  - Sim. Alice Costa. Muito prazer.
  - O prazer é todo meu. O que deseja?
  - Aqui vocês tem trabalho voluntário para as crianças doentes?
  - Sim. Temos na enfermaria e para as crianças internadas.
  - Posso me candidatar?
  - Claro. Estamos precisando. O horário de visitas não começou, então já devem estar começando.
  - Já posso entrar?
  - Sim, as crianças vão adorar.
  - Qual é a sala?
  - Pode ir com os voluntários, eles vão te mostrar.
  - Obrigada.
  - Disponha.
  Encontrei com alguns voluntários à caminho da internação.
  - Olá. Eu me candidatei a voluntária.
  - Alice Costa! Meu nome é Vitória. É um prazer conhecê-la. - Disse uma mulher baixinha.
  - O prazer é todo meu.
  - Se vai participar, vai ter que colocar um nariz. - Ela colocou um nariz vermelho de palhaço em mim e uma peruca.
  - Fiquei bonita? - Brinquei.
  - Ficou perfeita para uma palhaça.
  - Que história vão contar?
  - Hoje cada um vai contar uma história sozinho. Sobrou a da Rapunzel para você. - Ela me entregou um livrinho.
  - Perfeito.
  Foi muito bom ver o sorriso das crianças enquanto contávamos as histórias. Eu contei a uma menina que se chamava Carolina. Tudo foi perfeito, até que uma pessoa que eu não esperava ver apareceu.
  - Fábio? O que você está fazendo aqui? - O puxei para fora da sala.
  - Belo nariz.
  Arranquei aquela coisa da minha cara.
  - Ainda não respondeu a minha pergunta.
  - A minha sobrinha está internada aqui, será que é errado fazer isso?
  - Claro que não! Você está entrando e eu estou saindo. Já terminei tudo o que tinha que fazer.
  Tentei ir embora, mas ele me segurou.
  - Quando vou poder conversar com você?
  - Nunca. Você tem idéia de quanto me magoou? Ah, você não sabe. Você nem pensou nisso quando aceitou aquela aposta estúpida.
  Ele me beijou por um momento, mas eu consegui me afastar.
  - Eu sei que cometi um erro, mas você sabe que me apaixonei por você, se ouviu a conversa inteira...
  - Eu ouvi! Mas isso não muda o fato de você ter feito aquilo comigo. Eu não teria coragem de fazer isso nem para o meu pior inimigo. Você foi capaz de fazer isso com uma pessoa que nem conhecia!
  - Acha que foi fácil para mim?
  - Se não foi fácil, por que não acabou com essa aposta? Se estava apaixonado por mim?
  - Por que se eu não cumprisse a aposta...
  - O que? Eles iam te matar? Qual motivo pode ser tão forte assim?
  - Aquela casa que eu moro, não é minha, é dos meus primos! Se eu furasse, eles iam me mandar para a rua.
  - Eles seriam capaz disso?
  - De coisa muito pior.
  - Bela família você tem!
  - Eles são a minha única família, o que queria que eu fizesse? Já não é difícil demais ficar sem pai nem mãe?
  Para essa pergunta eu não tinha resposta.
  - Foi o que pensei. - Ele me soltou - Agora que sabe dos meus motivos, espero que me odeie menos. Eu te amo! - E foi embora.
  Fiquei paralisada enquanto o via entrar na sala.
  - Você está bem Alice? Saiu da sala tão rápido - disse Vitória.
  - Estou bem. - Menti - Só tive uma conversa meio conturbada com um amigo. Vou para a casa.
  - Vai vir amanhã?
  - Todo o final de semana!
  Ela sorriu e eu fui embora.
  Tomei uma decisão um tanto correta. Fui até a casa do Fábio. Guilherme atendeu.
  - Oi. O Fábio não está aqui...
  - Não vim falar com ele. Vim falar com você. Posso entrar?
  Ele me levou até a cozinha e puxou a cadeira para eu me sentar.
  - Obrigada.
  - Então?
  - Vim falar sobre a aposta estúpida que fizeram!
  - Bem, nesse aspecto...
  - Como teve a coragem de apostar uma casa? Fazer seu próprio primo fazer uma coisa dessas para não perder a casa? O que vocês querem? Querem fazer um escândalo sobre eu e ele ou só são um bando de idiotas que adoram ver as pessoas sofrerem?
  - Vejo que ele te contou...
  - Responda!
  - Eu fiz essa aposta por que queria tirá-lo dessa casa, mas não funcionou.
  - Posso saber seus motivos?
  - Essa casa me pertence! A mim e a meu irmão Flávio!
  - E queriam tirá-lo daqui com uma aposta? Você só conseguiu magoar duas pessoas e não conseguiu a casa de volta. Se coloque no lugar do Fábio! Acha que gostaria de ser manipulado pelo próprio primo?
  Fui embora sem esperar pela resposta.
  - Alice. Oi. Se lembra de mim? - Perguntou um homem atrás de mim.
  - Não. Qual é o seu nome?
  - Eu sou o Mark! Nos conhecemos há 15 anos. Lembra?
  Ele era o homem por quem me apaixonei...
  - Mark! - O abracei - Como vai indo? Ainda está com a Reese? - Perguntei a voz uma oitava mais baixa por causa da lembrança.
  - Não! Nos separamos há cinco anos.
  - Seu filho?
  - Na verdade filha! Lana está enorme, 14 anos.
  - A mesma idade da minha filha.
  - Você tem uma filha? Mas...
  - Não, ela não é minha filha, literalmente. A adotei quando tinha 3 anos.
  - Ah. - Suspirou - Eu estranhei você era uma santa. Não namorava.
  - Continuo com isso até agora! Não gosto de me prender a uma pessoa só.
  Ele percebeu a tristeza na minha voz.
  - Você está bem?
  - Só estou passando por um momento difícil. Logo vai passar. - Isso era uma coisa que eu não posso saber.
  - Você parece bem triste.
  - Levo minhas emoções aos extremos. Uma característica terrível.
  Ele riu.
  - Pode rir. É um tanto engraçado mesmo. E aí? O que está fazendo por aqui? Seattle não é um lugar bom para você?
  - É um lugar ótimo, mas gosto de explorar outros lugares.
  - O Rio de Janeiro é um lugar ótimo.
  - Soube que está fazendo um filme. É verdade?
  - É. E essa é a causa da minha tristeza.
  - Por quê?
  - Não, esquece. Você pretende ficar aqui por muito tempo?
  - Não, estou indo embora amanhã, mas talvez eu volte quando tiver outra folga longa do trabalho.
  - Você trabalha em que?
  - Sou médico! Então quase não tenho folga.
  - Nem devia ter. - Brinquei - Bem, parece que vou te ver daqui a quinze anos mais uma vez, ou vou vê-lo um pouco antes?
  - Nem eu sei, mas talvez daqui um tempo. Talvez eu vá me transferir para um hospital daqui do Brasil. Quero voltar as origens.
  - Isso é bom. Isso é um tchau ou um adeus?
  - Um até logo seria melhor.
  - Então, até logo.
  Demos um longo abraço e ele foi embora.
  Bem... Isso não doeu tanto quanto achei que ia doer, foi um alívio diante das coisas que estão acontecendo comigo.
  Entrei no carro e fui para a casa.
  - Alice! Sua irmã decidiu chegar mais cedo! - Avisou mamãe.
  Giuliani, nos seus quase 14 anos, tinha a aparência, doenças e tudo de uma pessoa de 98 anos. Era careca - tentamos fazê-la usar uma peruca, mas ela não quis - Usava óculos por causa da hipermetropia. Tinha um metro e meio de altura mais ou menos.  Ela não envelhecera tanto quanto eu esperei. - Ela sorriu e eu fui abraçá-la.
  - Giuliani! Conseguiu dobrar sua mãe e vir para cá, não é?
  - Você sabe que eu consigo tudo. - Ela falava com dificuldade, mas eu já estava acostumada e conseguia entender.
  - Tem novidades? Arrumou algum namorado lá na fundação?
  - Ninguém me pareceu interessante. Mas estou disposta a dar uma chance a quem queira.
  Nós rimos.
  - Onde está a Emily? Eu trouxe uns presentes para ela!
  - Vocês duas já vão começar a fofocar, conheço vocês! Agora ela deve estar com o namorado dela, daqui a pouco ela chega. Enquanto isso, você não quer conhecer seu quarto? Eu reformei ele. Estava parecendo de uma criança, agora está mais apropriado a sua idade.
  - Eu quero. Vou enchê-lo com os meus pôsteres. Minha coleção está ficando cada vez maior.
  - Por isso deixei uma parede com uma tela onde você pode colocá-los, com imã, por que você não gosta de colá-los, não é?
  - Isso mesmo. Não gosto de colar, por que depois se eu quiser tirá-los, eu não vou conseguir.
  - Então vamos. - A peguei no colo e minha mãe levou a cadeira.
  Ela pesava menos de trinta quilos, mesmo que devorasse tudo o que ela mais gostava.
  Eu era apaixonada pela minha irmãzinha, e morria de medo dela morrer, mesmo sabendo que isso pode acontecer a qualquer momento.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

11º e 12º Capítulo

11 - Reconhecimento

  - Aposta cumprida! - murmurei - Agora pegue uma toalha e tente se enxugar pelo menos um pouco. Não quero ter que gravar com você com o medo de pegar uma gripe também.
  Entreguei-lhe uma toalha. Ele não disse nada e balançou há cabeça um pouco. - acho que tentando clarear a mente.
  Eu consegui controlar minha expressão para não deixar transparecer que eu estava vendo o quarto rodar.
  - Não vou me desculpar se você pegar uma gripe. - eu disse enxugando o cabelo.
  - Não se preocupe comigo, além do mais, a idéia de pular na piscina foi minha, se eu pegar uma gripe a culpa vai ser minha.
  - Continue falando assim, vai ser melhor, vou sentir culpada mesmo se você não pegar uma gripe.
  - Deixe de ser boba. - ele me abraçou - Se isso te deixar melhor, chegando em casa eu tomo um banho de 40º.
  - Tudo bem. - cedi - Não precisa fazer isso.
  - Como quiser.
  Logo depois de terminar de se enxugar, ele foi embora.
  Tirei a roupa molhada e coloquei uma seca.
  Caramba. O quarto ainda estava rodando. Coloquei o travesseiro em cima do rosto, aquilo estava sendo difícil de esquecer.
  - Mãe? - Emily apareceu na porta.
  - Oi filha. Quer alguma coisa.
  - Não, só vim dizer que não cheguei uma hora da manhã desta vez. Eu estava na casa do Thomas.
  - Tudo bem. - se estava na casa dele, com os pais dele, tudo bem - Se divertiu?
  - Muito. Ficamos jogando banco imobiliário com os irmãos dele, e depois fomos para a praça em frente a casa dele.
  - Que bom. Você deve gostar muito dele. - observei.
  - Muito.
  - Só tome cuidado para não se decepcionar.
  - Pode deixar, eu tomei vacina contra esse tipo de coisa.
  - Isso é bom. - suspirei.
  - Você está bem mãe?
  - Estou. - menti - Só estou cansada, o dia foi longo lá no estúdio.
  - Ta.
  Ela ia indo embora, mas eu a chamei de volta.
  - Pode ficar comigo um pouco? Estou precisando.
  - Sabia que estava acontecendo alguma coisa. Vai me contar?
  - Talvez.
  Ela se sentou ao meu lado e ficou acariciando meu cabelo.
  - E aí? O que aconteceu?
  - Perdi uma aposta.
  - Só isso?
  - Não. Tem mais.
  - Pode me contar?
  - Essa aposta foi entre mim e o Fábio. Nós corremos até a piscina e ficamos brigando para saber quem ganhou, então fizemos uma aposta: verificamos a câmera de vídeo e descobri que tinha perdido a aposta.
  - E o que vocês apostaram?
  - Se eu ganhasse, ele ia de vestido para um restaurante comigo.
  Ela riu.
  - Eu sei. - eu disse - Queria ter visto essa cena.
  - E se ele ganhasse?
  - Ele... Bem... Tinha que me dar um beijo. E como ele ganhou...
  - Está confusa?
  - Um pouco.
  - Mas o suficiente para você conversar comigo. - ela riu - Isso se chama amor, sabia?
  - Você também não. - gemi.
  - O que eu fiz?
  - Estou cansada dessa história de amor.
  - Todo mundo me dizia isso com relação ao Thomas, e agora o que aconteceu? Estou namorando com ele. Irônico, não?
  - Tudo bem. - a empurrei para fora da cama - Vá se deitar, você tem aula amanhã.
  - Tenho. Mas, por favor, não deixe ficar cega por causa do seu orgulho. Você merece ser feliz.
  Apenas balancei a cabeça e ela foi embora.
  Não era amor. Mas eu estava começando a gostar dele.
  E eu era um monstro que magoava as pessoas.
  Xingando a mim mesma de todos os nomes possíveis, peguei no sono.

  Acordei em cima da hora para ir para o estúdio. Me arrumei correndo tomei um copo de suco em três goles e enfiei três bolachas goela abaixo.
  Quando cheguei lá, me senti aliviada, pois ainda não tinham começado e ninguém procurava por mim, a não ser a pessoa que eu estava esperando ver.
  - Fábio! - corri para perto dele - Nossa. Acordei atrasada e saí correndo.
  - Isso dá para perceber, você está parecendo um cachorro respirando.
  - Estou tão cansada que vou considerar isso um elogio.
  Um primo dele ligou e disse que ia chegar essa noite na casa dele, então ele ia ajudá-lo a desfazer as malas e depois ele ia para a minha casa.
  Chegando em casa, me joguei no sofá e liguei a TV. - estava passando uma matéria sobre mim - Mudei de canal.
  - Mãe?
  - Que foi Emily?
  - Tem três pessoas querendo falar com você.
  Levantei-me e vi o Thomas com os pais dele.
  - Ah, oi. Desculpe, acabei de sair do estúdio, devo estar parecendo um monstro. - o que era totalmente verdade.
  - Não, até parece. - disse o pai dele - Também acabamos de sair do trabalho.
  - Vocês estão ótimos para quem saiu do trabalho.
  A mãe dele não parava de me olhar, o Thomas pareceu perceber.
  - A minha mãe é muito fã sua. - me explicou - Deve estar em estado de choque.
  - Eu estou acostumada com isso. - me aproximei dela - Muito prazer. - estendi a mão.
  Ela a apertou.
  - Bem... É... Um prazer conhecê-la t-também. - gaguejou.
  - Nós vamos deixar vocês conversarem sozinhos. - disse Emily - Eu e o Thomas vamos ficar lá fora.
  - Tudo bem.
  Sentamos no sofá.
  - Minha filha não disse que vinham aqui. Como é o seu nome?
  - Marcos, minha esposa se chama Diana. É que viemos pedir desculpas pelo que aconteceu, devíamos ter ligado.
  - Imagina. Ela é quem devia ter feito isso. Mas me senti aliviada dela estar com vocês, mãe sempre pensa o pior.
  - Eu que o diga. - disse Diana - Meninos são piores do que meninas.
  - Nunca experimentei ser mãe de um menino, então não tem como concordar ou discordar.
  Com o passar da conversa, a Diana ficou mais a vontade. - eu disfarçava e ficava olhando o relógio.
  - Está esperando alguém?
  - Estou. E digo que ele está demorando, o Fábio vem aqui!
  - O ator que vai fazer o filme com você? - perguntou Diana.
  - Ele mesmo. - ri - Ele vai adorar conhecer vocês.
  - Está falando sério?
  - Claro. Você pode até pedir um autógrafo.
  - Para você ou para ele?
  - Para os dois. - peguei um papel e uma caneta, assinei e lhe entreguei - Nós não nos importamos com isso.
  - Bem diferente de outros famosos. - sua mão tremia - Já pedi autógrafos para muitos e alguns são bem mal educados.
  - Ela é uma caçadora de autógrafos. - Marcos explicou - Uma porta do nosso guarda-roupa está cheio deles.
  - Eu também não escondo ser fã de alguns atores e atrizes, de cantores... Tenho muitas fotos e autógrafos.
  Alguns minutos depois, a campainha tocou.
  - Cruze os dedos. - eu disse a ela - Deve ser o Fábio. - só para dar mais sorte, cruzei os dedos também.
  Atendi. Era ele.
  - Fábio! Tem uma pessoa que está desesperada para te conhecer.
  - Quem?
  - Uma fã!
  Ela se aproximou.
  - Fábio, essa é Diana a mãe do Thomas. Diana esse é o Fábio.
  - Oi. Então você é a mãe do namorado da Emily? Muito prazer em conhecê-la.
  - O prazer é todo meu. - ela o abraçou.
  - Fábio, ela quer um autógrafo!
  - Onde tem um papel e uma caneta?
  - Aqui. - lhe entreguei.
  Ele assinou e entregou a ela.
  - Tchau. - ela e o marido abriram a porta.
  Demos de cara com a Emily e o Thomas se beijando.
  - Bem, acho que estão se despedindo, não é? - perguntei quando levaram um susto.
  Emily ficou extremamente vermelha, o abraçou se despediu e foi para dentro de casa.
  - Desculpe por ter interrompido o casalzinho, mas temos que ir embora filho.
  - Tudo bem, pai. Tchau.
  - Tchau.
  Esperei até atravessarem o segundo portão e fechei a porta.
  - Parece que seu irmão não deu um ataque por você ter que sair de lá, não é?
  - Ele se acostuma.
  - É. - e ia ter que se acostumar mesmo.
  Ele se sentou no sofá e eu fui pegar um copo de água. - tudo para criar coragem - Respirei fundo. Abri a torneira da pia para lavar o copo, mas não saiu nada.
  - FÁBIO! - chamei-o.
  - Que foi?
  - Acho que a pia está entupida, vou chamar o encanador.
  - Não precisa. Eu dou uma olhada.
  - Não me diga que é encanador?
  - Não. Moro sozinho e aprendi a me virar.
  - Tudo bem, mas não faça besteira.
  - Feche o registro.
  Fui até o outro lado da cozinha e fechei o registro.
  - Tem uma caixa de ferramentas do lado da pia.
  Ele começou a trabalhar. E, pela primeira vez, comecei a reparar nele. - cabelos incrivelmente pretos, olhos azuis da cor do céu. - Até que ele era muito bonito.
  - Pode abrir o registro. - interrompeu meus pensamentos.
  Quando abri o registro, a maçaneta da torneira voou longe e a torneira espirrou água para todos os lados. Fábio ficou todo encharcado. Fechei o registro e comecei a rir sem parar.
  - Era melhor chamar um encanador mesmo! Agora eu vi como você “se vira sozinho”.
  - Tudo bem, tudo bem. - torceu a camisa - Chame o encanador! - tirou a camisa.
  Minha boca se escancarou e a fechei no mesmo segundo. Desviei o rosto. - como ele pode ser mais bonito do que já é? - Respirei fundo e me virei de volta.
  - Agora você pega uma gripe!
  Peguei um pano e comecei a enxugar seu rosto.
  - Sua carreira de encanador termina por aqui.
  - Acho que sim.
  Enxugando seu rosto, ele fechou os olhos. - minha cabeça não parava de dizer para me afastar, mas, por incrível que pareça, não consegui - Fingi enxugar seu pescoço e fui deslizando o pano ali, me aproximei mais dele e o beijei.
  De inicio ele ficou confuso, mas logo sua mão estava na minha cintura.
  Seu beijo era delicado, ele acariciava meu rosto. Sua roupa estava me deixando molhada e eu me afastei.
  - Bom o que foi isso? - ele sussurrou no meu ouvido.
  - Não sei!
  Depois de eu dizer isso, ele me beijou mais uma vez.

12 - Colo de Mãe

  Todas as perguntas da minha cabeça não respondidas começaram a me assombrar. - Mas o que foi aquilo? Como não consegui me controlar? Isso não é uma coisa normal! Eu estou doente? Acho que estou delirando!
  Fomos até a casa dele juntos. - eu não suportaria vê-lo com gripe - Eu queria conhecer esse primo dele. E não deu outra: mal atravessamos a porta e ele apareceu.
  - Pelo amor de Deus, Guilherme, quando vai parar de me assustar desse jeito?
  Guilherme era o contrario do que eu esperava - eu pensava que seria parecido com o Fábio - mas ele tinha, mais ou menos, uns vinte anos.
  - Desculpe. E aí? Vai me apresentar a famosa Alice, a quem vejo na TV e voce   nao  mas, por incrivel s. você tanto fala?
  - Guilherme essa é Alice, Alice esse é o Guilherme.
  - Muito prazer. - dissemos juntos e depois rimos.
  - Eu vou para o meu quarto terminar de arrumar minhas coisas. - disse Guilherme - Espero que vocês dois não sintam minha falta. - e foi correndo para cima.
  Fábio me levou até o sofá.
  - E aí? Vai me explicar o que aconteceu na sua casa?
  - Não, por que nem eu consigo explicar.
  - Tudo bem. - Abaixou a cabeça.
  - Comprou livros novos?
  - Sim. Quer ver? Estão lá em cima.
  - Vou pegar uns dez emprestados.
  E não deu outra: emprestei, mais ou menos, uns treze.
  - Em quanto tempo lê isso?
  - Duas semanas. Ou menos.
  Ele estava do meu lado e não viu um copo atrás dele, tropeçou e segurou em mim para não cair, mas caímos os dois. Só não fomos para o chão, por que estávamos perto da cama.
  Deitados, começamos a rir sem parar. Ele olhou para mim e eu para ele. Quando ele estava se aproximando de mim, eu me levantei e peguei minha bolsa.
  - Eu tenho que ir - murmurei.
  Ele atravessou o quarto antes que eu pudesse me mexer e segurou meu rosto.
  - Eu tenho que ir, Fábio.
  - Não. - sussurrou e me beijou.
  Aquele momento era tão perfeito que nenhuma parte de mim foi capaz de impedir aquilo. Parecia que era para acontecer.

  No outro dia, fiquei sem acreditar que fui capaz de uma coisa dessas. Me levantei sem acordá-lo, coloquei minha roupa e peguei minha bolsa, mas quando estava indo embora, ele acordou.
  - Aonde você vai?
  - Embora. Eu não sei o que deu em mim para fazer uma coisa dessas, eu preciso ir.
  Mas ele se levantou e me beijou antes que eu pudesse dar um passo.
  - Não vá.
  - Eu tenho que ir. Emily deve estar preocupada comigo, hoje tem gravação e eu tenho que trocar de roupa. E, eu prometo que nunca mais vou ser capaz de uma coisa dessas, isso só vai te magoar mais, e magoar a mim mesma.
  - Você me fez o homem mais feliz do mundo!
  - E esse é o problema, não quero que você se engane!
  - Mas o que aconteceu ontem... ?
  - Foi a noite mais feliz que eu já tive, mas isso não muda nada. Tchau.
  Desci a escada correndo, mas ele me segurou.
  - Acha que eu vou deixar você ir assim?
  - Por favor, facilite as coisas.
  - Você sabe que me ama.
  - Eu te amo, mas não do jeito que você me ama.
  - Mas você me ama. É isso que importa.
  - Fábio...
  - Nada do que você falar vai mudar o que estou dizendo.
  Olhei para ele sem conseguir dizer nada.
  - Eu te amo tanto, Alice. Você vai realmente fugir de mim?
  Eu não conseguia encontrar minha voz.
  - Só quero que você entenda o que está em seu coração. Se não for amor, prometo que nunca mais vou insistir.
  Eu podia sentir o sacrifício por de trás da sua promessa.
  - Promete que vai pensar?
  - P-prometo. - Gaguejei.
  - Te vejo no estúdio?
  Balancei a cabeça afirmativamente. Ele me soltou e eu fui embora.
  Peguei um táxi. Respirei fundo para tirar as lembranças de ontem da cabeça.
  - Mudei de idéia, moço. Me leve para esse endereço aqui. - Lhe entreguei o endereço da Gabriela - Não se preocupe com o preço.
  Eu estava desesperada para desabafar com alguém.
  Entreguei o dinheiro ao taxista e toquei a campainha. Quando ela apareceu na porta, já ficou alarmada com a expressão no meu rosto.
  - O que aconteceu?
  - Lá dentro. Lá dentro.
  - Você está tão estranha.
  - Lá dentro.
  Sentamos no sofá.
  - Vai me contar o que aconteceu ou vai continuar com essa cara de quem está prestes a ser morta?
  - Estou com vontade de me matar nesse exato momento. - Tentei engolir o nó na minha garganta, mas parecia impregnado na minha garganta.
  - Você está me deixando assustada.
  Contei tudo o que aconteceu para ela. - Incluindo o caso da pia entupida, e ela começou a rir sem parar.
  - Pare com isso.
  - É impossível. Eu queria ter visto essa cena.
  - É. Essa cena não tem preço. - Forcei um sorriso.
  - Mas enquanto ao resto da história...
  - Seja boazinha.
  - Eu já estava esperando que isso acontecesse há muito tempo.
  Respirei fundo para não começar a discutir com ela, eu vim aqui para desabafar.
  - Vai. Me explica tudo o que está acontecendo nesse coração.
  - Absolutamente nada, é como se eu não tivesse coração, eu estou fazendo-o sofrer.
  - Não percebe que quem está sofrendo é você? Negando o que está evidente?
  - Por favor, não comece...
  - Alice, eu sei todo o seu discurso sobre não querer se apaixonar, sei também quais são seus infinitos motivos! Mas você acha que é justo magoar vocês dois por causa disso? Você sabe que o ama!
  Fitei o vazio.
  - Não acha que está na hora de superar o que aconteceu há muito tempo? Você tinha quinze anos e pretende carregar isso até o final da sua vida? Sinceramente, por que você não percebe que a felicidade está batendo à sua porta?
  Me levantei decidida a ir embora.
  - Essa é uma promessa que fez a ele! Descubra o que está passando em seu coração!
  A abracei, peguei um táxi e fui para a casa.
  Emily - eu já desconfiava - estava me esperando na porta.
  - Oi filha. - minha voz era monótona - Desculpe por não ter avisado que ia dormir fora. - Aliás, eu nem sabia que ia dormir fora.
  - Você dormiu na casa do Fábio, não foi?
  - O que te leva a pensar isso?
  - Eu vi vocês dois se beijando ontem na cozinha, que a faxineira acabou de limpar.
  - Bem... Você está certa.
  - É claro! - Revirou os olhos - Eu te conheço muito bem.
  - Muito mais do que eu podia imaginar. - murmurei tão baixo que ela não ouviu.
  - Por que está com essa cara?
  - Assunto meu. Se eu tiver cabeça, à noite eu te conto.
  - Vou cobrar. - Ela me abraçou - Espero que tenha seguido meu conselho. Vocês dois formam um casal lindo.
  Sem querer discutir com ela, fui para o meu quarto.
  A única que sabia dos meus motivos reais de não me apaixonar era a Gabriela. E eu não vou contar para mais ninguém.
  Cada vez que eu fechava os olhos - como se fosse para me enlouquecer - vinha na minha cabeça tudo o que aconteceu. - Como um filme passando mil vezes a mesma cena - É claro que eu estava apaixonada por ele - tive certeza disso desde ontem - mas eu não quero - e não vou - assumir isso. Eu já sofri muito por uma vida inteira. - Decidida a acertar as coisas, voltei para a casa dele.
  - Precisamos conversar. - Murmurei entrando - Cumpri minha promessa: vou te contar tudo o que está passando no meu coração e muito mais.
  Contei todos os meus sentimentos para ele, enquanto ele ficava paralisado sem acreditar.
  - Agora eu vou te contar por que não vou poder ficar com você.
  Seu rosto ficou mais triste quando eu disse isso.
  - Aos meus quinze anos, eu me apaixonei! E era um amor impossível, ele estava prestes a se casar com uma menina que ele tinha engravidado e amava. Aquilo me fez sofrer muito, e não quero sofrer mais ainda. - me levantei e fui embora.
  Mas eu tinha esquecido a bolsa na casa dele, então tive que voltar.
  Ele estava na cozinha conversando com o Guilherme. Comecei a escutar a conversa deles.
  - Estou me sentindo muito mal com isso. - disse Fábio - Eu me apaixonei realmente por ela, quando ela ficar sabendo...
  - De qualquer jeito meu primo, a aposta foi muito clara.
  Aposta?
  - Eu era infantil. - sua voz estava estranha - Como eu poderia brincar com os sentimentos de uma pessoa dessa maneira. Eu me apaixonei por ela!
  - A aposta era: Tentar conquistá-la em dois meses. Você conseguiu! Devia estar pulando...
  - ENTÃO TUDO NÃO PASSOU DE UMA APOSTA? - quase voei no pescoço dele - SEU CANALHA, IDIOTA. COMO FOI CAPAZ DE FAZER ISSO COMIGO?
  - Pergunte a ele. - apontou para o Guilherme.
  - O CASO NÃO É QUEM FEZ A APOSTA. E SIM QUE VOCÊ FOI CAPAZ DE CUMPRI-LA. EU TENHO NOJO DE VOCÊ! NOJO!
  Peguei minha bolsa e saí correndo. Por sorte tinha um táxi bem na porta.
  - Eu quero ir para esse endereço - minha voz estava sufocada por causa das lágrimas.
  O taxista ficou meio assustado com meu choro, mas - para o meu alívio - não disse nada.
  Quando está conseguindo encontrar a felicidade, a vida abre um buraco ainda mais fundo no seu coração. Eu estava cada vez mais próxima a uma vida feliz e perfeita só lado do homem que amo. Mas a ironia do meu azar atacou mais uma vez.
  Suas promessas de não me magoar foram todas em vão, como se ele fosse capaz de esconder essa farsa por muito mais tempo.
  Corri para o meu quarto e peguei o telefone.
  - Alô? Mãe? Onde você está?
  "O que aconteceu?"
  - Onde você está?
  "Estou indo pegar o avião para voltar para o Brasil."
  - Pelo amor de Deus, chega aqui o mais rápido que você puder, estou precisando da senhora.
  "Você está chorando"
  - Estou. Eu não quero te contar o que aconteceu por telefone, vem logo.
  "Já estou indo!"
  Desliguei o telefone e o joguei contra parede, ele se despedaçou.
  E pensar que eu ia ter que ir para o estúdio. Emily apareceu e se sentou ao meu lado.
  - O que aconteceu mãe?
  - Acabou.
  - Acabou o que?
  - O Fábio morreu para mim.
  Ela se deitou ao meu lado e eu coloquei minha cabeça no seu colo.
  - Me acorde quando for a hora de ir para o estúdio. - e afundei no sono.
  Nem nos sonhos, consegui tirar isso da cabeça. Aquela cena horrível me acordava dentro de algumas dezenas de segundos, então teve uma hora que eu desisti.
  - Não vou ficar aqui! - Eu ia chegar cedo, mas não suportaria ficar em casa.
  Quando o Fábio apareceu no estúdio, como uma criança mimada, fingi que ele não existia.
  Gravar com ele estava me dando nojo, mas tive que agüentar. Quando o estúdio estava vazio e só nós dois não tínhamos saído, ele me puxou para o canto.
  - Me solta seu idiota! Eu não quero mais olhar na sua cara!
  - Dá para me escutar?
  - Não! Agora vai me deixar ir?
  Ele me beijou e eu dei um tapa na sua cara.
  - Eu não quero mais que você me toque! Está sendo um sacrifício ter que gravar com você, então já estou satisfeita.
  - Alice...
  - Alice nada. - Comecei a soltar todos os palavrões possíveis - Você está morto para mim! Morto!
  Saí antes que alguém percebesse nossa discussão. Lutei contra as lágrimas até o meu carro, mas quando coloquei as mãos no volante, elas venceram a guerra. Esperei até parar de soluçar para ligar o carro. - Um acidente era tudo o que eu não queria agora! - Eu queria me enforcar me esfaquear, me matar de todas as maneiras possíveis. - E pensar que eu amo aquele cachorro sem vergonha!
  Dei ordens que ele estava proibido de entrar na minha casa ao porteiro.
  Esperei pela minha mãe na porta de casa. Quando chegou a noite e a vi chegando, assim que ela passou pela porta, corri para abraçá-la. - Nada melhor do que colo de mãe numa hora dessas.

9º e 10º Capítulo

9 - Magoando

  Me espreguicei, e sem querer bati o braço nele, que deu um pulo de susto.
  - Desculpe. Você dormiu aí?
  - Acho que apaguei minutos depois de você.
  - Machuquei você?
  - Não. Só me deu um baita susto.
  O celular dele tocou.
  - Alô? - houve uma pausa - E o que vou fazer agora? - ele se irritou - E espera até agora para me contar isso? - houve um chiado, talvez a pessoa estivesse gritando - Mas que ótimo! Pode deixar que eu me vire! - desligou.
  - Nossa. O que aconteceu?
  - Meu amigo quer emprestada a minha casa.
  - Emprestada?
  - É. Ele anda saindo com uma garota e quer passar a noite com ela lá. Eu não pude reclamar, uma vez que ele já está lá com ela.
  - Por que ele não te avisou?
  - Por que eu não estava em casa.
  Sem razão, me senti culpada.
  - Ele deixou algumas roupas minhas com o vizinho, vou passar lá e pegar. Depois vou procurar um lugar para passar a noite.
  - Você pode ficar aqui.
  - Não. Já passei mais noites aqui do que deveria.
  - Uma a mais, uma a menos não vai fazer diferença.
  - Sério mesmo?
  - Não quero que você gaste dinheiro com hotel ou qualquer outro lugar. O meu quarto de hóspedes está em promoção: apenas um copo de água. Estou com sede.
  Ele sorriu e foi buscar o copo de água para mim. Voltou o mais rápido que imaginei ser possível.
  - Ainda bem que hoje é sábado.
  - Posso saber o motivo?
  - Hoje nenhum de nós tem compromisso.
  - E?
  - Vou te levar em outro lugar.
  - De novo não vai me contar onde é?
  - Sim, de novo vou te fazer uma surpresa.
  - Tomara que seja linda que nem a de ontem.
  - Prometo que vai ser ainda melhor.
  - Tudo bem. Então vá buscar suas roupas, não quero que você tenha que sobreviver só com o que tem no corpo. - brinquei.
  - Vou voltar antes que sinta minha falta.
  - Já estou sentindo sua falta. Você me faz rir...
  - E chorar.
  - Só quando quero desabafar.
  Nós rimos.
  Quando ele saiu, aproveitei para trocar de roupa. Senti uma vontade inexplicável de estar muito bonita para a surpresa, mas acabei ficando na mesma de sempre: uma saia colada que ia até o meio da cocha, uma blusinha fina e uma sapatilha.
  Ele voltou, sei lá quanto tempo, depois de eu me arrumar.
  - Estou apresentável? - perguntei dando uma voltinha.
  - Está linda.
  Virei o rosto para ele não ver o vermelho que se formava no meu rosto.
  - Está pronta?
  - Sim. E você vai me dizer aonde vamos?
  - Não. Tenha paciência.
  - Por sorte ainda tenho um pouco. - suspirei - Você me irrita as vezes sabia?
  - Sabia. - riu - Adoro te ver irritada.
  - Está tentando me irritar nesse momento ou é só um comentário inocente?
  - Um pouco dos dois.
  Respirei fundo e contei até dez em voz alta. - isso o deixou ainda mais alegre.
  - Podemos ir? Ou quer que eu tenha um acesso de raiva e parta para cima de você?
  - Acho que eu ia gostar disso.
  Revirei os olhos e o puxei para fora do quarto.
  - Vamos. Você não ia me levar em algum lugar ou era só conversa?
  - Pode pelo menos me deixar pegar a chave do carro?
  Soltei sua camisa e ele pegou a chave que estava no sofá.
  - Pronto senhorita apressada.
  O puxei mais uma vez até o carro.
  - Vou ter que colocar uma venda de novo?
  - Desta vez não vou te torturar tanto assim.
  Ele dirigiu tranqüilamente. Tive medo de olhar a paisagem e estragar a surpresa.
  - Você devia estar animada.
  - Se não fosse pelo fato de você estar me irritando mais do que costume, eu estaria animada.
  Ele suspirou.
  Só percebi que havíamos chegado, quando ele desligou o carro.
  - Tudo bem. Onde estamos?
  - Na antiga casa dos meus pais.
  Saí do carro e analisei a casa. Era maior do que a dele, mas a pintura estava saindo, tinha um charme de casa antiga, eu sinceramente gostei.
  - Posso ter o prazer de conhecê-la por dentro?
  - Não viemos aqui por isso?
  A casa era toda mobiliada com réplicas de móveis antigos. Era linda. Tinha um pequeno lustre no meio da sala.
  - Virada do século XX? - perguntei apontando para o lustre.
  - Sim. Para ser exato é da metade do ano de 1901. Minha mãe era fanática por coisas antigas, montou essa casa aos poucos, anos antes de eu nascer.
  - Ela tinha muito bom gosto.
  - Disso eu não posso discordar. - ele abaixou a cabeça.
  Afaguei seu ombro.
  - Sei que sente falta dela.
  - Está muito na cara?
  - Eu não preciso olhar no seu rosto, só sua voz já diz isso.
  - Pensei que estivesse escondendo isso muito bem. - ele engoliu um nó que se formava na garganta - Pensei que estivesse sendo forte.
  - Você não precisa provar nada para mim, sei que está com vontade de chorar, faça como eu, desabafe!
  O máximo que ele conseguiu foi um choro silencioso.
  - Acho que é melhor voltarmos para a casa. Isso não está te fazendo bem, e eu já conheci a casa e adorei.
  Ele concordou, depois não disse mais nada enquanto voltávamos para a casa.
  Eu não tinha percebido que já anoitecera. - o tempo anda passando rápido demais - Ele arrumou suas coisas, tomou um banho e trocou de roupa, e eu decidi fazer o mesmo. - o banho tirou todo o estresse de ontem do meu corpo - Peguei minha camisola e a vesti, prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Mais uma vez levei um susto quando o vi parado na porta.
  - Você está aí há muito tempo? - corei.
  - Não. Eu só estava de passagem. - mas seu olhar dizia mais do que isso.
  - Deseja alguma coisa nobre cavalheiro?
  - Só queria conversar com você.
  - Adoro uma conversa! - me sentei na cama - Sinta-se a vontade, cavalheiro, vai ser uma honra conversar com você... Mais uma vez.
  Ele se sentou ao meu lado e me olhou por um demorado tempo. Eu não consegui desviar o olhar.
  - Sobre o que quer conversar?
  - Sobre você. Sobre eu.
  - Qual dos dois exatamente?
  - Os dois. Nós dois.
  - Pensei que já tivéssemos tido essa conversa. - meus olhos se estreitaram.
  - Bem, não do jeito que eu queria falar hoje.
  - Pode ir direto ao assunto? Ou ainda tem preliminares?
  - Eu te amo.
  - Isso eu já sei há muito tempo.
  - Eu não consigo mais ficar longe de você.
  - Você está aqui não está?
  - Você sabe exatamente o que estou dizendo.
  - Bom, seu eu sei do que você está falando, então fale o que eu sei que você está falando.
  Minha resposta confusa o deixou confuso por algum tempo.
  - Estou tentando dizer que esperei tempo demais. Mas já sei que você vai continuar dizendo não, então não sei por que eu tento. - ele se levantou e foi embora.
  Eu sabia que o estava magoando. Sabia o quanto custava a ele ser só meu amigo, mas eu não posso enganá-lo, não posso ficar com ele sem que eu queira de verdade.
  O fato era que eu não podia viver sem ele, mas não podia viver com ele da mesma maneira que ele quer.
  - Eu sou um monstro. - murmurei para mim mesma.
  As lágrimas desceram pelo meu rosto e me aquietaram, dormi uma hora depois.

  Acordei cedo demais, eram cinco da manhã, mas eu não ia conseguir dormir mais.
  Fui até a cozinha e preparei um chá para mim.
  - Acordada há essa hora?
  Dei um pulo quando percebi que ele estava atrás de mim. Não consegui de esconder a tristeza nos meus olhos.
  - Estou sem sono. E você?
  - É o mesmo que eu ia te perguntar. Por que está assim?
  - Por que estou te deixando triste. Não gosto disso.
  - Vivi doze anos da minha vida mergulhado em tristeza, acho que aprendi a suportar.
  Eu me encolhi. Então eu estava mesmo magoando-o.
  - Alguma coisa programada para hoje? - perguntou - Tenho muitas idéias...
  - Se não se importa, eu queria ficar por aqui hoje. Minha cabeça está cheia com os últimos acontecimentos.
  - Tudo bem.
  Fui trocar de roupa.
  - Mãe?
  - Que foi Emily?
  - Eu posso sair com o Thomas hoje?
  - Sim. Portanto que não chegue aqui depois das dez.
  - Obrigada, mãe. - ela me abraçou e foi embora.
  Fiquei um bom tempo no quarto refletindo sobre tudo o que já aconteceu.

10 - Aposta

  Hoje começava a gravação do filme. Fábio roia as unhas de tanto nervosismo, quando os outros atores demonstraram o mesmo nervosismo, ele conseguiu se acalmar.
  Eu já estava acostumada com a ansiedade, então não tive problemas.
  - Vamos lá pessoal. A festa vai começar. - Eduardo anunciou.
  Todos desataram em uma conversa sem fim falando dos erros que podiam cometer e entre outras coisas. Fábio se mantinha perto de mim para não começar o nervosismo mais uma vez.
  - Silêncio! Alice, Fábio, a primeira cena é de vocês dois. Venham!
  - Eu acho que o Fábio vai ter uma parada cardíaca. - brinquei.
  - Não brinque com isso, é sério. - ele apertou minha mão.
  Todos começaram a rir.
  - Venha eu vou te ajudar. É fácil depois que você começa. - sussurrei.
  Ele me acompanhou em um ritmo lento. Quando começamos a cena, ele ficou totalmente à vontade. - o que nos aliviou de trazer médicos para cá.
  - Vocês estavam ótimos! Vejo que seu medo ajudou um pouco na cena, Fábio.
  - Pelo menos o medo serviu para isso, eu estava tremendo feito vara verde.
  - Isso não apareceu no vídeo, então deve estar exagerando.
  - Então olhe minha mão. - ele a estendeu, e estava tremendo horrores.
  - Você se acostuma. A Alice conhece muito bem esse tipo de medo e pode ajudar, não é Alice?
  - É claro que sim, Eduardo. O Fábio vai aprender muito comigo.
  - Mais do que já aprendi? Vai ser muita coisa para enfiar na minha cabeça.
  Nós rimos.
  A próxima cena, ele não faria comigo, faria com outra atriz. - o que o deixou mais nervoso - Era estranho como me incomodei quando eles se beijaram. - parecia que eu queria voar no pescoço dos dois - Estranho!
  O dia de gravação passou mais rápido do que eu podia imaginar. - conseguimos gravar três cenas sem ninguém errar o texto - O que é um milagre.
  Indo de volta para casa, eu estava soltando fumaça pelo ouvido, me segurando para não perguntar uma coisa ridícula para ele.
  Quando estávamos na sala, consegui abrir a boca:
  - Ela beija bem? - perguntei com tom de cinismo.
  - De quem você está falando?
  - Quem mais você beijou hoje além da atriz? Se for mais do que ela, não precisa me contar. - me sentei no sofá e bufei.
  - Está. Dando. Um. Ataque de ciúmes?
  Levantei surpresa.
  - Ciúmes? - minha voz estava uma oitava mais alta.
  - É o que parece.
  - Eu só te fiz uma pergunta simples: Ela beija bem? Ainda estou esperando pela resposta.
  - Beijo técnico não é bem um beijo, então não sei dizer se ela beija bem.
  - Você é um ótimo mentiroso.
  Ele veio para perto de mim e colocou a mão no meu rosto.
  - Você fica mais linda ainda com ciúmes. Sabia?
  Tirei sua mão do meu rosto e atravessei a sala.
  - Ah, qual é? Aquele beijo foi totalmente profissional. Eu nem conheço a atriz. Pelo menos pessoalmente.
  - Conheceu hoje quando estava a beijando. “Totalmente profissional”. Nem eu caio nessa.
  - Eu nunca menti para você. E você sabe que eu te amo.
  - Então pelo amor que você diz sentir por mim, olha nos meus olhos e diz que aquele beijo não significou nada.
  Ele veio ao meu encontro e olhou fundo nos meus olhos.
  - Aquele beijo não significou nada para mim.
  Seu rosto estava muito perto de mim. Desviei e me sentei de volta no sofá.
  - Bem... Isso era tudo o que eu precisava saber. Obrigada. - era mais estranho ainda como eu me senti aliviada com isso.
  - Acabou o ataque de ciúmes?
  - Chame como quiser.
  - Tudo bem: acabou o “chame como quiser”?
  - Acabou. Satisfeito?
  - Mais do que nunca.
  Fui para a cozinha e tomei um copo de água. - aquilo me irritara mais do que qualquer outra coisa - Será que era ciúmes? É claro que era ciúmes! Sou a melhor amiga dele!
  Depois de repassarmos todas as falas seguintes - quase à noite - estávamos morrendo de calor.
  - Sabe o que podia ser bom para um calor desses? - perguntei me abanando com um livro.
  - O que?
  - Dar um pulo na minha piscina.
  - E por que não fazemos isso agora?
  - Você não tem outra roupa se lembra? Seu amigo te devolveu sua casa há cinco dias.
  - Só por que eu não queria que minha casa ficasse mais empestada com o “amor” do casal, senão eu estava de inquilino aqui até agora. E eu não tenho medo de pegar uma gripe.
  - Tudo bem. As roupas são suas, você é quem vai pegar gripe, então eu não me importo. Você faz o que você quiser com você mesmo.
  - Isso mesmo. E você? Vai pular de roupa?
  - Não. Vou colocar um short e uma camiseta.
  - Não vou me incomodar se você quiser pular de biquíni.
  - Engraçadinho. - o empurrei.
  Coloquei a roupa e saí correndo atrás dele até a piscina.
  - EU VOU CHEGAR PRIMEIRO! - gritei enquanto corríamos.
  - NÃO COM ESSE PASSO DE TARTARUGA!
  Pulamos dentro da piscina e começamos a discutir:
  - Eu cheguei primeiro! - eu disse jogando água nele - Não adianta falar que não por que eu cheguei primeiro!
  - Você tem câmera de segurança aqui?
  - Tenho. Por quê?
  - Depois vamos ver o vídeo e ver quem ganhou. Topa uma aposta?
  - Claro. Se for eu que ganhei, você vai de vestido para um jantar comigo.
  - Tudo bem. - disse meio sem graça - Se for eu que ganhei você me dá um beijo!
  Mas eu ia ganhar de qualquer jeito.
  - Fechado. - apertamos as mãos.
  Ficamos discutindo sobre isso enquanto brincávamos feito crianças. Acho que eu tinha engolido mais água do que um São Bernardo com sede. Fábio também parecia estar assim. Saímos da piscina e sentamos na beira deixando só os pés na água.
  - Se eu ficar com virose, o culpado vai ser você.
  - Eu?
  - Você tem uma boa pontaria, só acertou na minha boca.
  - Você também não tem do que reclamar! Acho que tem água até nas minhas veias.
  - Fala sério!
  - É verdade.
  Eu ri. Ele se aproximou do meu rosto, mas parou no meio do caminho.
  - Vou esperar pela minha vitória!
  - Está tão certo assim de que ganhou? Eu penso totalmente o contrário.
  - Então espere até conferirmos à câmera.
  - É isso mesmo que vamos fazer agora.
  O puxei até o meu quarto. Liguei o computador e entrei na pasta dos vídeos.
  - A cada 10 minutos a câmera manda os vídeos para cá. - lhe expliquei - Acho que já deve ter chegado o vídeo de nossa “corrida”.
  Passei até essa parte: por vinte centímetros de diferença - mais ou menos - ele ganhou.
  - Eu não te falei? Eu ganhei! Ganhei! - comemorou.
  Fiquei com raiva de ter perdido para ele e ter perdido a chance de vê-lo com um vestido, mas fiquei com medo, por causa da nossa aposta.
  - Viu? Ganhei!
  - Ta legal, você ganhou. Agora cale a boca, certo?
  - Claro. Por que tenho coisa melhor para fazer com ela! Vai furar nossa aposta?
  - Sou uma mulher de palavra, apesar de querer furar nesse mesmo instante.
  - Só por que perdeu.
  - Sou má perdedora. - admiti - Não posso controlar isso.
  - Mas perdeu!
  - Vai me lembrar disso a toda hora?
  - Mas é claro que sim, senão você esquece.
  - Tenho uma memória melhor do que a sua.
  - Disso eu não posso discordar. - ele já tinha diminuído uma boa parte da distância entre nós dois - Levei muito mais tempo do que você para decorar o texto do filme.
  - Isso é um fato, pato. Que bom que você admite que tenha menos memória do que eu.
  - Sim. Sou bom nessas coisas. - ele me levantou da cadeira - Mas também sou bom em outras.
  - Tipo?
  - Ser ator.
  - Você é mesmo.
  - Te fazer rir, e principalmente te fazer chorar.
  - Devia fazer faculdade de tragédia, você também é bom nisso.
  - Quem sabe eu não faço mesmo? - riu - Vou tentar conseguir uma bolsa.
  - Você tem talento, vai conseguir!
  Ele me segurava a sua frente e qualquer movimento que eu fizesse, ele se aproximava mais de mim, até que seu nariz estava tocando o meu.
  - Vai mesmo fazer faculdade de tragédia? - perguntei meio tonta.
  - Não. - riu - Prefiro comédias e romances.
  - Eu também.
  Ele encostou os lábios nos meus. Sem conseguir me controlar, passei os braços por seu pescoço. Movi meus lábios junto com ele sem me importar com nada. - afinal ele ganhou a aposta não é? - Cedo demais, na opinião dele, eu me afastei.

7º e 8º Capítulo

7 - Jantando

  Encontrei o Fábio no corredor.
  - Como foi?
  - Ótimo. Para a minha surpresa. Você deve estar cansado, não?
  - Toda essa agitação me tirou o sono.
  - Tem coragem de dirigir para a casa?
  - Tenho. Não tenho medo dessa cidade.
  - Pois devia ter. Vai se cuidar?
  - É claro!
  - Promete mesmo? - eu estava realmente preocupada.
  - Não se preocupe comigo.
  - Como não posso me preocupar? Você se tornou meu melhor amigo!
  Percebi o quanto ele ficou incomodado com a palavra amigo.
  - Se preocupe com você mesma e com sua filha, Alice. - ele me abraçou - Amanhã nós conversamos.
  - Conversar?
  - Vamos começar a gravar o filme semana que vem!
  - Ah. - eu tinha me esquecido completamente - Com essa rotina, a minha memória vai para o espaço.
  - A minha não vai tão longe. - ele me olhou - Nossos ensaios vão acabar semana que vem não é?
  - É. - suspirei - Mas, em compensação, vamos nos ver muito mais nas gravações. Pense por esse lado.
  - É mesmo. - ele se animou - Amanhã? Ensaio?
  - Claro! Precisamos ensaiar muito, pois não podemos esquecer as falas.
  - Se quiser, eu posso traduzir o filme para o chinês sem precisar do papel.
  - Mas é sempre bom.
  - Tudo bem. Eu só estava brincando.
  - Eu sei. - comecei a rir.
  Ele interrompeu meus risos com um beijo. - nossa! - Desta vez eu não consegui “encontrar” forças para impedi-lo. - isso era mais do que eu esperava de mim mesma - Depois de um tempo eu reuni minhas forças e nos separei.
  - Não! Não Fábio! Por favor...
  - Tudo bem. - murmurou meio tonto - Prometo que vou me comportar... Até amanhã?
  - Com certeza!
  E foi embora.
  Me joguei na cama e enfiei a cara no travesseiro.
  - Mas... O que... Foi isso? - minha cabeça estava girando e eu não conseguia ter algum pensamento coerente.
  Perdi completamente o sono e fiquei acordada pelo que me pareceram horas.
  Depois disso, a única coisa que percebi, é que já era dia. Hoje meu dia iria ser corrido: eu tinha um almoço com um ator do filme, tinha uns... Três cafés com outras atrizes e tinha que passar na casa da Gabriela, por que, quando começarmos a gravar o filme, vou precisar de uma secretária, pois minha vida vai estar uma loucura. - mais do que já é! - Não consegui tirar da cabeça a cena de ontem - mas que beijo!
  - Alice? Alice? Onde você está? - Gabriela me perguntou.
  - Desculpe, é que minha cabeça está muito cheia, tive uma briga feia com a Emily, mas conseguimos nos acertar. - contei metade da situação.
  Ela me olhou.
  - Tem algo mais que queira me contar?
  - Na verdade tenho! Se eu não contar isso para alguém, acho que meu rim vai sair pela boca.
  - Nossa! O que foi?
  - O Fábio...
  - Sabia! Sabia que uma hora ele ia bagunçar essa cabecinha!
  - Dá para me escutar ou está difícil?
  - Dá!
  - Ele... Ontem... Depois que eu me acertei com minha filha... Ai isso é mais difícil do que eu pensava!
  - Vamos! Conte!
  - Ele me beijou! Pronto! Falei!
  Ela ficou de boca aberta uns bons trinta segundos.
  - Dá para me ajudar ou vai ficar de boca aberta esperando que algum passarinho faça “cocô” nela?
  - Desculpe, é que eu estou perplexa.
  - Eu também. - admiti - Nossa! O que foi aquilo? Você não tem idéia de como eu fiquei depois, parecia que eu era uma criança que tinha acabado de sair do parque da Disney. Foi estranho.
  Ela me olhou como quem já sabia disso há muito tempo.
  - Isso que aconteceu mexeu com você não é?
  - Bom... Vamos dizer que... Foi uma coisa totalmente nova, totalmente desconhecida...
  - Desconhecido para você só o amor!
  - Não seja besta! - a empurrei - Tudo bem que ele me conhece melhor do que muitas pessoas, que eu gosto muito da companhia dele, mas...
  - Mas nada. Você não percebeu o que está acontecendo?
  Balancei a cabeça negativamente.
  - Você está apaixonada!
  - Não brinque com uma coisa dessas...
  - Não estou brincando.
  - Poupe-me de suas conclusões erradas. - fui até a porta.
  Ela me segurou.
  - Erradas? Então me diga: quando ele está perto de você, não sente como se o conhecesse há muito tempo? Sente que ele é uma pessoa perfeita e não podia ser melhor? Sente que não pode brigar com ele nem de brincadeira? Sente que é proibido magoá-lo? Sente que não pode viver sem a companhia dele?
  Sim. Para todas as perguntas a resposta era sim! Virei-me para olhá-la.
  - Então? Vai me responder?
  - Sim, parece que eu o conheço há muito tempo! Sim, ele é uma pessoa perfeita e não podia ser melhor! Sim, eu não posso brigar com ele nem de brincadeira! Sim, é proibido magoá-lo e, sim, eu não posso viver sem a companhia dele! Pronto, satisfeita?
  - Você nunca ouviu aquela frase da Madeleine de Scudéry? Amor é um não-sei-quê, que surge não sei de onde, e acaba não sei como?
  - Isso mesmo, eu não sei o que esperar, por isso nunca me apaixonei, não estou apaixonada e nem vou me apaixonar.
  - Isso é o que você acha que está pensando. Alice, eu te conheço desde que nós éramos duas garotinhas mimadas, sei o que está passando em seu coração - ela o tocou - antes mesmo que você possa descobrir, mas se não quer acreditar, não diga que eu não tentei.
  - Tentou, mas não deu certo. Agora eu posso ir embora ou você não vai largar meu braço tão cedo?
  Ela relaxou e soltou meu braço.
  - Até amanhã. - murmurei e fui embora.
  Era incrível como aquela conversa me irritou completamente. - parecia que ia sair fumaça das minhas orelhas.
  Fábio logo percebeu minha irritação.
  - O que foi Alice?
  - Ah. Podemos ensaiar amanhã? Não estou com a cabeça muito boa hoje. Mas se quiser podemos fazer outra coisa. Essa mansão não serve só para dormir e guardar carros na garagem.
  - Claro que podemos ensaiar amanhã, mas com uma condição...
  - Qual?
  - Deixe-me levá-la a um lugar que eu adoro.
  - Vai me contar o que é?
  - Não!
  - Então eu quero ir!
  - Não entendi seu argumento.
  - Nem eu.
  - Tudo bem. Vamos nos divertir!
  - É disso mesmo que eu estou precisando.
  Ele me levou no carro dele, demorou - para mim - uma eternidade para chegar a esse lugar.
  - Vai ter que colocar essa venda. - ele me estendeu uma tira de seda.
  - Está brincando comigo?
  - Não. Só quero que seja uma surpresa.
  - Ah, se é assim, agora que eu não a coloco mesmo.
  - Não me faça parar o carro e colocar isso em você nem que seja a força e ter que lacrar.
  Peguei a fita e amarrei nos olhos.
  - Satisfeito? Agora não enxergo um palmo a minha frente.
  - Era essa a intenção, assim você não tem como trapacear.
  Bufei.
  - Lembra que nós vamos nos divertir? Onde está o espírito?
  - Fora dessa fita idiota que você me obrigou a colocar.
  - Já estamos chegando. - disse tranqüilamente - Você não vai tropeçar em nada, não se preocupe, eu vou te ajudar.
  Dessa vez eu não arrumei mais nada para dizer. Quando finalmente o carro parou, ele me ajudou a descer.
  - Espero que essa surpresa seja realmente boa, senão você vai perder a consciência.
  - Dá para ser mais razoável? Você vai gostar!
  - Espero me... - ele tocou meus lábios.
  - Fique quieta.
  Tivemos que pegar um elevador. - o que me assustou.
  Ele tirou minha venda.
  - Nossa. - era um restaurante lindo, com vários tocadores de violino, de frente para uma praia - É lindo.
  - Eu disse que ia gostar!
  - Pelo menos você não vai perder a consciência esta noite.
  - Uma boa notícia por sinal.
  Ele se aproximou da recepção.
  - Pois não senhor?
  - Eu reservei uma mesa para dois em nome de Fábio Castro.
  - Estávamos esperando pelo senhor. Venham. Vou levá-los até lá.
  Nossa mesa era bem lá na frente onde dava para ver perfeitamente o mar.
  - Aqui está o cardápio. - ela nos entregou - Quando se decidirem é só chamar o garçom.
  E se retirou.
  - O vai querer? - perguntou.
  - Você escolhe.
  - Então vou pedir meu prato favorito. - ele indicou que o garçom viesse até nós.
  Ele pediu tão baixo que eu não pude ouvir. O garçom trouxe um minuto depois, comi sem prestar atenção na comida.
  - Há algum motivo de esse lugar ser seu preferido?
  - Claro. Primeiro: a comida é ótima. Segundo: a vista. - ele apontou para o mar - E terceiro: os músicos são muito bons.
  - Bons motivos.
  - Quer pedir uma música?
  - Sim.
  Ele chamou o violinista e ele logo começou a tocar.
  - Gostou desse lugar?
  - Amei.
  - Podemos voltar mais vezes aqui.
  - Vou adorar.

8 - Histórias

  Terminamos de comer e dispensamos o violinista. Ele me levou até um banco e ficamos admirando a vista.
  - Quando é que vou deixar de admirar a beleza dessa cidade? - perguntei olhando para ele.
  - Eu acho isso impossível.
  - Por mim eu morava aqui para sempre.
  - Eu também.
  Ele se aproximou, mas eu desviei.
  - Acho que está ficando tarde, não quero que a Emily tenha motivos para reclamar.
  - Tudo bem. - ele abaixou a cabeça.
  Ele me levou de volta para a casa. Olhei no relógio e percebi que não demoramos tanto quanto pensei, eram nove horas. Agora entendi por que ele abaixou a cabeça: ­Acho que está ficando tarde não era uma boa frase para um horário desses.
  - Parece que vamos ter que ocupar nosso tempo com outra coisa.
  - Menos ensaiar!
  - Isso mesmo.
  - O que podemos fazer? Já comemos, admiramos a cidade...
  - Podemos assistir TV. Ver se os atores estão tendo um bom desempenho.
  - Agora nós viramos jurados?
  - Prefiro dizer que somos avaliadores de talentos.
  - Tudo bem.
  Ele colocou num filme.
  - Essa mulher está com o cabelo meio despenteado. - apontei para a mulher que estava sentada ao lado do seu filho - Pela fala dela: Para além do horizonte, ela não podia ficar olhando para o pé, devia estar olhando para o horizonte.
  - O menino não parece estar prestando atenção ao que ela diz, parece que quando estavam gravando, ele tinha a cabeça em outro lugar.
  E seguiu uma maratona de elogios e criticas. - a maioria era criticas - No final do filme, nós estávamos rindo, sem ter razão. - O filme era triste - Acho que estávamos rindo de nós mesmos, rindo de nossas avaliações, rindo de tudo e de nada ao mesmo tempo.
  - Por que estamos rindo afinal? - perguntei entre gargalhadas.
  - Era a mesma pergunta que eu ia te fazer.
  Conseguimos parar de rir minutos depois.
  - Se fosse filme romântico, ia ter muito mais coisas para criticar. - desliguei a TV.
  - Com toda a certeza. - suspirou.
  Desviei meus olhos para não começar um assunto que eu não queria ouvir, mas, como se pudesse ouvir meus pensamentos, ele começou a falar.
  - Lembra daquele dia que sua mãe nos interrompeu?
  - Lembro. - Suspirei. - E?
  - Queria que ela não tivesse interrompido.
  - Se ela não interrompesse, eu mesma ia interromper.
  - Duvido muito. Sei que você também me quer.
  - Ah é?
  - É.
  - Vou te provar que não sinto nada.
  - Como?
  - Assim. - o beijei - Está vendo? Estou como sempre e não senti nada, Satisfeito?
  Uau. Como eu beijá-lo pode me deixar tonta? - balancei a cabeça.
  Ele não respondeu confuso com minha demonstração de desamor.
  - Entendeu ou quer que eu te “prove” mais uma vez?
  - Entendi. Entendi que você é uma boa mentirosa.
  - Desisto. - Levantei as mãos - Você é inflexível...
  - E você é apaixonada por mim.
  - Você é a segunda pessoa a me dizer isso, pena que estão errados.
  - Estamos errados?
  - Sim.
  - Quando você me disser eu te amo, vou provar que está errada.
  - Então espere sentado, meu querido Fábio, isso nunca vai acontecer.
  - Vou esperar de pé, sentado, deitado, vou esperar de qualquer maneira. Agora, você é tudo o que mais me importa. Vou esperar até que acredite em mim...
  - Tudo bem. Acredito em você. Só não quero que fique esperando por mim, desperdiçando seu tempo, isso só vai te magoar.
  - O que importa a mágoa se tenho o amor?
  - Você faz tudo parecer tão fácil.
  - Por que para mim as coisas são muito mais simples do que você pensa. Mais fácil do que se pode imaginar...
  - Como eu queria acreditar nisso. - suspirei - Para mim, a vida é mais difícil do que muitos pensam.
  - Pode me explicar por quê?
  - Por que, na minha vida, nada foi “fácil” ou “simples”, ela sempre foi muito difícil.
  Ele esperou que eu continuasse.
  - A única coisa que eu tinha de “fixo” era o dinheiro, e isso não é uma coisa de que me orgulho. Eu vivia num mundo completamente diferente das outras garotas, eu sentia certa inveja delas...
  - Não entendi.
  - É que elas tinham tudo o que eu não tinha: elas tinham atenção de toda a família, brincavam sem se preocupar com a vida e... Quando eu estava na adolescência, houve uma cena que tocou meu coração e fez um corte bem no meu coração. Sei que é um exagero, mas é verdade. - um nó se formava na minha garganta.
  - Conte. Vai se sentir melhor.
  - Eu vi um casal, mas não era um casal comum, parecia... Parecia... Parecia um amor verdadeiro, ele a olhava como se fosse à coisa mais preciosa do mundo, e ela ficava encantada só de ver o sorriso no rosto dele. - minha voz saía rouca com a vontade de chorar - Foi lindo!
  - Então por que isso te deixa triste?
  Fitei o vazio.
  - Estou me metendo onde não devo de novo? Se for isso, por favor, me fale.
  - Não, não está. É que o assunto é meio delicado.
  - Se não quiser me contar...
  - Não. Estou precisando botar para fora.
  - Tudo bem, me conte.
  Respirei fundo.
  - Eu queria que aquele tipo de coisa acontecesse comigo, que houvesse uma maneira de aquilo ser real para mim. - não consegui mais segurar o choro.
  Não consegui falar nenhuma palavra que não viesse atropelada por lágrimas e soluços.
  Ele ficou quieto uns bons cinco minutos até dizer:
  - E você não percebe que esse desejo está bem na sua frente? - havia uma pontada de tristeza na voz dele.
  - Não é isso. É que. Eu queria. Sentir o mesmo. Por você. - tentei controlar os soluços - Você me ama, mas... - não consegui terminar a frase.
  - Mas?
  Eu me atirei num abraço forte nele. Agora eu estava compreendendo muito bem o que estava se passando no meu coração.
  - Eu estou com medo. - admiti.
  - Medo? De que?
  - De me decepcionar.
  - Você sabe que comigo isso não ia acontecer.
  Quando consegui me acalmar, acabei dormindo.
  - Alice! Alice!
  Murmurei algo ininteligível, eu estava morrendo de sono.
  - Vou te levar lá para cima. - ele me pegou no colo - Parece que você vai dormir um bom tempo.
  - Arrã. - foi a única coisa que consegui dizer.
  Aconcheguei-me no seu colo. - isso me ajudou a dormir.
  Ele me colocou na cama, me cobriu e apagou a luz.
  - Não se importa de eu dormir aqui hoje?
  - Pode ficar com o quarto de hóspedes.
  - Obrigado.
  E apaguei.

  Quando acordei, percebi que não dormi o suficiente, olhei o relógio: ainda eram três e meia da manhã. Virei-me e quase caí da cama do susto que levei.
  - Desculpe, não queria te acordar. Acha que eu não preciso mais ficar aqui? - perguntou Fábio.
  - Do que você está falando?
  - Duas horas atrás você acordou e me pediu para ficar aqui.
  Nossa. Eu estava tão cansada que tinha me esquecido disso. Mas agora o sono tinha ido embora. Percebi que ele estava lendo um livro à luz de uma lanterna.
  - Que livro é esse?
  - Sonho de Uma Noite de Verão.
  - Gosta desse tipo de livro?
  - Não, só fiquei curioso. Está melhor?
  - Acho que sim. Você não está com sono?
  - Costumo ficar lendo de madrugada.
  - Ah.
  Precisei de alguns minutos para eliminar a moleza que tinha no meu corpo e conseguir me sentar.
  - Você parece mesmo melhor.
  - Acho que só precisava desabafar. Pode me distrair para não começar a chorar de novo?
  - Quer que eu fale sobre o que?
  - Sempre fiquei curiosa sobre a história dos seus pais. Você prometeu que ia contar...
  - Sim, eu prometi. Quer ouvir agora?
  - Não é o que estou tentando dizer? A história de seu pai eu já sei...
  Ele sorriu.
  - Minha mãe nunca ligou muito para mim, sempre ficou torcendo para eu fazer dezoito anos e poder me chutar para fora de casa.
  Fiz uma cara meio estranha, ele não percebeu.
  - Desde meus dezoito anos que não a vejo... Bem, essa é a história.
  - Não me deixou distraída por muito tempo. - murmurei e ele não pôde ouvir - Sinto muito pela sua mãe, deve ser difícil.
  - Acho que já me acostumei a isso. O tempo pode fazer milagres conosco.
  Estiquei o braço e afaguei seu rosto.
  - Não precisa dar uma de durão.
  - Às vezes é preciso. Como acha que eu consigo lidar com isso?
  - Ah. - recolhi minha mão - Pensei que fosse o tempo.
  - Eu também.
  Bocejei.
  - O sono está voltando?
  - Não tive uma noite completa. - expliquei - Nem sei como consegui acordar mais uma vez.
  Dizendo isso, me afundei mais uma vez na inconsciência.

5º e 6º Capítulo

5 - Conhecendo

  Quando estávamos cansadíssimos de tanto ensaiar, ele decidiu ir embora.
  - Pense naquilo que eu te falei. - ele disse me abraçando.
  Apenas concordei com um aceno de cabeça. Ele foi embora.
  Deitei na cama e tentei colocar a cabeça no lugar.
  Dormi, remoendo um monte de coisas dentro da minha cabeça.

  Hoje eu não tinha nenhum compromisso. - graças a Deus! - Terminei a peça que eu estava escrevendo há quase um mês. - muita coisa na cabeça.
  A campainha tocou. Mas quando fui atender, era só o entregador trazendo um pacote para mim. Assinei, paguei e voltei para o sofá.
  Quem será que me mandou esse pacote? O que tem nele?
  Você só vai saber se abrir, Alice.
  Abri. Era uma caixa de bombons, e tinha um bilhete junto. Li em voz alta:
  - Espero que não dê um ataque e diga que está de dieta. - ri - Vou chegar um pouco atrasado para o nosso ensaio, espero que não se importe. Preciso comprar uma coisa para você! E não adianta perguntar o que é, por que eu não ia escrever no bilhete! - ele e seu jeito - Vou sentir saudades! Eu te amo! Fábio.
  Dobrei o bilhete e coloquei no bolso da minha calça. E decidi que ia dividir a caixa de bombons com ele.
  Ele chegou uma hora e meia, depois do horário que sempre chegava.
  - Demorei?
  - Digamos que eu fiquei aqui sozinha. Sem minha filha. Minha mãe lá em Seattle...
  - Tudo bem, eu demorei!
  - Demorou!
  - Mas em compensação, seu presente está aqui!
  - Vai me contar o que é?
  - Não. Você vai abrir.
  Ele me entregou um pacote pesado, embrulhado para presente.
  - O que tem aqui? Chumbo?
  - Não. É só abrir que você vai saber por que é tão pesado.
  Sentamos no sofá e eu abri: era uma enorme coleção de livros.
  - Machado de Assis. Aluísio Azevedo. Joaquim Manuel de Macedo. Paulo Coelho e muitos outros.
  - Eu adorei! Obrigada!
  - Gostou mesmo?
  - É claro! - o abracei.
  Ele ficou meio confuso com meu abraço, mas aceitou.
  - Pronto para começar o ensaio?
  - Pronto!
  Ensaiamos até ficarmos enjoados de todas as falas.
  - Parece que vamos ter que começar a gravar esse filme logo, senão vamos morrer de tédio.
  - É.
  Ele olhou para o meu rádio e a enorme quantidade de CDs que eu tinha.
  - Que tipo de música tem por aqui? - ele se levantou e começou a olhá-los.
  - Principalmente clássicos.
  - Mozart?
  - Também.
  - Hum. - disse colocando um CD no rádio - Me dá o prazer dessa dança, senhorita?
  - Com muito prazer cavalheiro. - comecei a rir sem parar.
  - Estou falando sério.
  - Eu também!
  Ele pegou minha mão e me conduziu até o meio da sala.
  - Sabe dançar, ó bela senhorita?
  - Perfeitamente, cavalheiro.
  Ele colocou minha mão em seu ombro, colocou sua mão na minha cintura, com a outra pegou minha mão livre e me puxou para perto. Enterrei meu rosto na sua roupa para ele não ver como eu estava vermelha.
  - Não pise no meu pé. - me avisou.
  Eu sorri e pisei bem forte no peito do pé dele.
  - Ai! Adoro mulher desobediente. Continue assim.
  - Ah é?
  - Sim.
  - Então vou ser muito obediente de agora em diante.
  - Está sendo desobediente de novo!
  Cara? Quando ele vai deixar de me fazer parecer uma boba? Eu parecia estar no jardim da infância para não sacar essa.
  - Melhore um pouco essa sua expressão. Parece que está quase sendo empurrada a beira de um precipício, Alice.
  - É da minha natureza, minha mãe sempre tem essa expressão.
  - Eu não tinha visto essa expressão no seu rosto até agora.
  - Por que até agora, você não me chamou para dançar.
  - Isso te incomoda?
  - Não. É só que você escolheu um CD que eu nunca ouvi, minha mãe o deixou ali faz meses.
  - Ela tem bom gosto.
  - Isso é verdade.
  De repente passou para outra música.
  - O que você gosta de comer? - perguntou.
  - De tudo um pouco.
  - O que você gosta de fazer?
  - Ler livros, assistir filmes, escrever peças e conversar com minha filha.
  - Quais tipos de filmes?
  - Romances e terror!
  - Nossa! E livros?
  - Todos.
  - Gosta de morar aqui no Rio de Janeiro?
  - Fora as violências, eu gosto do Rio.
  - Morou em quais lugares?
  - No Brasil só em São Paulo e Curitiba. Morei em Seattle com minha mãe até meus dezoito anos, em Miami, Nova York, São Francisco e Londres.
  - Você se muda com freqüência.
  - Mas, agora, pretendo ficar no Rio por um tempo bem maior. Terminar o filme que nem começamos ver se alguma das minhas peças vai para o teatro, além do mais, a Emily conseguiu fazer muitos amigos por aqui. - suspirei - Apesar de ela estar meio rebelde ultimamente.
  - Coisas de adolescente, aposto que eu era pior.
  - É de se imaginar, você adolescente.
  - Eu era bem rebelde.
  - Disso eu não duvido.
  - E você? Como você era na adolescência?
  - Eu era bem tranqüila, não dava trabalho, mas...
  - Quando chega esse “mas” é por que lá vem bomba.
  - Mas quando havia festas com os amigos, ninguém me segurava. Meu pai ficava louco. - suspirei.
  Ele olhou no meu rosto.
  - Seu pai está feliz aonde quer que esteja. Sempre tenha consciência disso.
  - É. - encostei meu rosto no seu ombro para não chorar.
  - Qual é a sua cor preferida?
  - Não tenho uma cor preferida, gosto das cores bonitas.
  - Fruta?
  - Que me faça bem.
  - Filme?
  - Um Amor Para Recordar.
  - Assisti esse!
  - Eu choro até me acabar.
  - Mas que exagero.
  - Sou meio “sensível” quando assisto filmes.
  - Até que eu suporto bem.
  - Você é homem!
  - Homens também choram.
  - Você é um desses?
  - Talvez. Mas só choro quando estou realmente triste, chateado.
  - Então você não é um desses. Você é o homem que se faz de forte, mas no fundo fica todo emocionado.
  - Na mosca!
  Outra música começou a tocar.
  Ele encostou o rosto no meu pescoço.
  - Como é incrível - começou - esse sentimento.
  - Qual? - perguntei apesar de saber muito bem do que ele estava falando.
  - O amor! Qual mais?
  - A alegria, a tristeza, a amizade, existem tantos, quer que eu te fale todos?
  - Não. Para mim só o amor importa. Impossível de descrever e impossível de esquecer. - ele colocou minhas duas mãos nos seus ombros e colocou as suas mãos na minha cintura.
  - É melhor encerrar esse assunto por aqui.
  Ele concordou sem dizer mais nada.

6 - Conversa

  - Eu ainda não comi os bombons. - peguei a caixa - Quer dividir comigo?
  - Só por que eu sou louco por chocolate?
  - Também.
  Pela primeira vez, olhei no relógio.
  - Já são onze horas, aonde será que está a Emily? Ela nunca ficou fora até tão tarde.
  Decidi esperar mais um pouco. - deu meia noite e ela ainda não tinha chegado - Me desesperei e comecei a ligar para todas as amigas dela, mas ninguém sabia onde ela estava.
  - Onde está a minha filha? - comecei a chorar.
  - Fique calma, ela vai aparecer.
  Liguei para todas as pessoas possíveis que podiam estar com ela. Nada.
  - Ai meu Deus! Já é quase uma hora da manhã. Onde ela pode estar?
  De tanto desespero, comecei a tremer, chorar e soluçar, tudo ao mesmo tempo.
  Quando eu estava prestes a sair pela cidade atrás dela, ela apareceu com um menino.
  - Emily! Onde você estava? Você sabe o estado que você me deixou? E quem é ele?
  - Esse é o Thomas.
  - Onde vocês estavam até agora? - eu ainda continuava a chorar, mas deixei o tom da minha voz, baixo.
  - Eu não saí com motorista, não encontrei nenhum táxi, e não tinha nenhum ônibus, então ele me trouxe.
  - Onde vocês estavam até agora?
  - Relaxe, mãe.
  - COMO QUE VOCÊ QUER QUE EU RELAXE? VOCÊ SAI, NÃO DÁ NOTÍCIAS E AINDA QUER QUE EU RELAXE? - me virei para o garoto - E você garoto?
  - Eu sou Thomas Carvalho. - ele pegou minha mão e a beijou.
  - Pelo menos é educado. - observei - Você pode me contar onde estavam ou vou ter que começar a gritar? - agora eu não soluçava, mas continuava a chorar.
  - Não precisa se preocupar, ela estava comigo lá em casa, com minha mãe e meu pai. - ele olhou para ela.
  - Vocês estão juntos?
  - Eu gosto muito da sua filha, senhora. Ela parece gostar de mim também. Estamos namorando.
  Virei e olhei para a Emily.
  - Por que não me contou?
  Ela não respondeu.
  - Por que não me contou?
  - Por que eu fiquei com medo de você brigar comigo. Conheço de cor seus discursos sobre namorados.
  - Você sabe que pode confiar em mim.
  - Olhe. Eu a trouxe aqui. Foi um prazer conhecê-la, senhora, mas meu pai está lá fora me esperando. - disse Thomas indo até a porta.
  - Tudo bem. Foi um prazer te conhecer também.
  E ele foi embora.
  Olhei seriamente para a Emily.
  - Você tem idéia de como eu fiquei desesperada?
  - Você sempre me deixou sair.
  - Até a essa hora?
  - Eu já te expliquei...
  - Mas devia ter ligado. Ninguém sabia onde você estava, liguei para todas as suas amigas...
  - Espera aí, você ligou para todas as minhas amigas?
  - Liguei sim. Pensei que você estivesse com alguma delas.
  - Não! Além de me fazer pagar mico na frente do meu namorado, ainda mexe na minha agenda e liga para todas as minhas amigas? - ela começou a ficar irritada.
  - Você não sabe como eu estava desesperada...
  - EU NÃO SOU NENHUMA CRIANÇA. VOCÊ SABE DISSO.
  - NÃO OUSE GRITAR COMIGO, SOU SUA MÃE.
  Agora que eu fiquei irritada e comecei a gritar, ela me ouviu.
  - Amanhã a escola inteira vai saber disso, não basta eu ser nova lá? Se confiasse em mim, isso não tinha acontecido.
  - Eu confio em você. Mas você sabe como é essa cidade, eu pensei o pior.
  - Eu sei me cuidar.
  - Qualquer um pode se encrencar nessa cidade, até eu.
  - Bastava se acalmar...
  - COMO VOCÊ QUERIA QUE EU ME ACALMASSE?
  - Fique calma, Alice. - disse Fábio.
  - COMO VOU FICAR CALMA?
  Tentei controlar minha voz.
  - Desculpe Fábio.
  - Não precisa se desculpar, você está de cabeça quente. - ele me abraçou.
  - Há quanto tempo está namorando esse Thomas?
  - Um mês.
  - Um mês? Pensei que confiasse mais em mim.
  - Eu tive medo.
  - Medo? Eu nunca levantei um dedo para você. Como pode pensar isso de mim?
  - Seus discursos...
  - Meus “discursos” eram para te ensinar, não para te botar medos. Eu sempre deixei isso muito claro. Pelo menos arrumou um rapaz educado. Aonde se conheceram?
  - Ele estuda comigo.
  - E os pais dele?
  - Muito gentis. Gostaram muito de mim.
  - Que milagre!
  - Milagre?
  - Milagre gostarem de você, ultimamente você está me dando nos nervos.
  - É por que, ao contrário de você, eles pararam me escutaram e me conheceram. O que você faz? Trabalha o dia inteiro e só para em casa a noite. E a noite só tem tempo para ensaiar.
  - Você disse que entendia isso...
  - Menti! Menti por que não queria te preocupar, mas já está ficando insuportável. - ela subiu para o quarto.
  - Ah. - desabei no sofá e não consegui mais segurar minhas lágrimas - Ainda não posso acreditar!
  - Fique calma, Alice. Você sabe como são essas adolescentes.
  - Nós nunca brigamos desse jeito.
  - Você quer que eu converse com ela?
  - Você pode até tentar, mas duvido que ela vá te ouvir. Ela nem te conhece direito.
  - Não custa tentar.
  - Faça o que quiser.
  Não consegui reprimir o impulso de ouvir o que eles estavam conversando. Fiquei parada no corredor perto do quarto dela.
  - Você nos deixou preocupados, Emily.
  - Preocupados? Você nem me conhece direito.
  - Mas você acha que eu sou o tipo de pessoa que não se preocupa com o filho dos outros? Especialmente da sua mãe.
  - Mas o que eu podia fazer? Não tinha como voltar para a casa e o pai do Thomas teve que me trazer. Se não acreditam em mim, eu dou o telefone dos pais dele...
  - Nós acreditamos em você, Emily.
  - Então?
  - O fato é que você tinha que ter nos avisado. Sua mãe ficou em estado de nervos, ela ficou muito preocupada...
  - Mas não havia motivo...
  - Errado. Ela tem todos os motivos para ficar preocupada. Quando tiver seus filhos, vai saber o que ela passou. Você sabe como é para uma mãe ficar sem saber onde o filho está? Principalmente nessa cidade tão perigosa?
  Ela ficou muda.
  - Agora, é melhor você pedir desculpas para a sua mãe, ela está muito triste por ter brigado com você. É muito difícil para ela, por que você é a pessoa que ela mais ama na vida. Eu vou chamá-la e vocês duas vão conversar.
  Eu corri para a sala.
  Alguns segundos depois, ele veio me chamar.
  - Alice? É melhor você ir conversar com sua filha.
  - Não sei se vou conseguir...
  - É melhor! - ele me abraçou - Ela precisa conversar com você, e você precisa conversar com ela.
  - Vem comigo?
  - Essa conversa é só entre vocês duas.
  - Então fique rezando por mim. Não estou na melhor das condições. Deseje-me sorte.
  - Boa sorte. E vou ficar rezando.
  - Obrigada.
  Subi até o quarto dela e bati na porta.
  - Posso entrar?
  - Ele já te contou que pode.
  Eu me sentei ao lado dela.
  - Antes de você começar a falar, Emily. Apenas me escute certo?
  Ela concordou.
  - Você sabe quanto é importante para mim? Sabe como é não saber onde você está e não poder fazer nada? Você sabe o quanto eu te amo?
  Ela não respondeu.
  Respirei fundo para não voltar a chorar.
  - Quando eu te peguei no orfanato, foi como se você fosse perfeita para mim, como se aquele bebezinho ali se tornasse a coisa mais importante para mim em apenas alguns segundos. Era como se você fosse minha filha de verdade... - decidi mudar de assunto - Isso que você está passando agora, eu já passei, mas eu sempre confiei na minha mãe, sabe por quê?
  Ela acenou a cabeça para que eu respondesse.
  - Por que ela é a pessoa que mais me ama nesse mundo! - eu abaixei a cabeça - Quando vi que você estava demorando muito para chegar em casa, eu fiquei desesperada, por que você é tudo para mim, e mãe sempre pensa o pior. Você nem sabe como foi horrível não saber onde você estava ficar desesperada por medo de perder a pessoa mais importante da sua vida. - voltei a chorar.
  Ainda não tinha percebido que ela também estava chorando.
  - Desculpa mãe. Desculpa. - ela me abraçou.
  - Está desculpada, minha filha.
  Fiquei ali até ela dormir.