quarta-feira, 3 de novembro de 2010

11º e 12º Capítulo

11 - Reconhecimento

  - Aposta cumprida! - murmurei - Agora pegue uma toalha e tente se enxugar pelo menos um pouco. Não quero ter que gravar com você com o medo de pegar uma gripe também.
  Entreguei-lhe uma toalha. Ele não disse nada e balançou há cabeça um pouco. - acho que tentando clarear a mente.
  Eu consegui controlar minha expressão para não deixar transparecer que eu estava vendo o quarto rodar.
  - Não vou me desculpar se você pegar uma gripe. - eu disse enxugando o cabelo.
  - Não se preocupe comigo, além do mais, a idéia de pular na piscina foi minha, se eu pegar uma gripe a culpa vai ser minha.
  - Continue falando assim, vai ser melhor, vou sentir culpada mesmo se você não pegar uma gripe.
  - Deixe de ser boba. - ele me abraçou - Se isso te deixar melhor, chegando em casa eu tomo um banho de 40º.
  - Tudo bem. - cedi - Não precisa fazer isso.
  - Como quiser.
  Logo depois de terminar de se enxugar, ele foi embora.
  Tirei a roupa molhada e coloquei uma seca.
  Caramba. O quarto ainda estava rodando. Coloquei o travesseiro em cima do rosto, aquilo estava sendo difícil de esquecer.
  - Mãe? - Emily apareceu na porta.
  - Oi filha. Quer alguma coisa.
  - Não, só vim dizer que não cheguei uma hora da manhã desta vez. Eu estava na casa do Thomas.
  - Tudo bem. - se estava na casa dele, com os pais dele, tudo bem - Se divertiu?
  - Muito. Ficamos jogando banco imobiliário com os irmãos dele, e depois fomos para a praça em frente a casa dele.
  - Que bom. Você deve gostar muito dele. - observei.
  - Muito.
  - Só tome cuidado para não se decepcionar.
  - Pode deixar, eu tomei vacina contra esse tipo de coisa.
  - Isso é bom. - suspirei.
  - Você está bem mãe?
  - Estou. - menti - Só estou cansada, o dia foi longo lá no estúdio.
  - Ta.
  Ela ia indo embora, mas eu a chamei de volta.
  - Pode ficar comigo um pouco? Estou precisando.
  - Sabia que estava acontecendo alguma coisa. Vai me contar?
  - Talvez.
  Ela se sentou ao meu lado e ficou acariciando meu cabelo.
  - E aí? O que aconteceu?
  - Perdi uma aposta.
  - Só isso?
  - Não. Tem mais.
  - Pode me contar?
  - Essa aposta foi entre mim e o Fábio. Nós corremos até a piscina e ficamos brigando para saber quem ganhou, então fizemos uma aposta: verificamos a câmera de vídeo e descobri que tinha perdido a aposta.
  - E o que vocês apostaram?
  - Se eu ganhasse, ele ia de vestido para um restaurante comigo.
  Ela riu.
  - Eu sei. - eu disse - Queria ter visto essa cena.
  - E se ele ganhasse?
  - Ele... Bem... Tinha que me dar um beijo. E como ele ganhou...
  - Está confusa?
  - Um pouco.
  - Mas o suficiente para você conversar comigo. - ela riu - Isso se chama amor, sabia?
  - Você também não. - gemi.
  - O que eu fiz?
  - Estou cansada dessa história de amor.
  - Todo mundo me dizia isso com relação ao Thomas, e agora o que aconteceu? Estou namorando com ele. Irônico, não?
  - Tudo bem. - a empurrei para fora da cama - Vá se deitar, você tem aula amanhã.
  - Tenho. Mas, por favor, não deixe ficar cega por causa do seu orgulho. Você merece ser feliz.
  Apenas balancei a cabeça e ela foi embora.
  Não era amor. Mas eu estava começando a gostar dele.
  E eu era um monstro que magoava as pessoas.
  Xingando a mim mesma de todos os nomes possíveis, peguei no sono.

  Acordei em cima da hora para ir para o estúdio. Me arrumei correndo tomei um copo de suco em três goles e enfiei três bolachas goela abaixo.
  Quando cheguei lá, me senti aliviada, pois ainda não tinham começado e ninguém procurava por mim, a não ser a pessoa que eu estava esperando ver.
  - Fábio! - corri para perto dele - Nossa. Acordei atrasada e saí correndo.
  - Isso dá para perceber, você está parecendo um cachorro respirando.
  - Estou tão cansada que vou considerar isso um elogio.
  Um primo dele ligou e disse que ia chegar essa noite na casa dele, então ele ia ajudá-lo a desfazer as malas e depois ele ia para a minha casa.
  Chegando em casa, me joguei no sofá e liguei a TV. - estava passando uma matéria sobre mim - Mudei de canal.
  - Mãe?
  - Que foi Emily?
  - Tem três pessoas querendo falar com você.
  Levantei-me e vi o Thomas com os pais dele.
  - Ah, oi. Desculpe, acabei de sair do estúdio, devo estar parecendo um monstro. - o que era totalmente verdade.
  - Não, até parece. - disse o pai dele - Também acabamos de sair do trabalho.
  - Vocês estão ótimos para quem saiu do trabalho.
  A mãe dele não parava de me olhar, o Thomas pareceu perceber.
  - A minha mãe é muito fã sua. - me explicou - Deve estar em estado de choque.
  - Eu estou acostumada com isso. - me aproximei dela - Muito prazer. - estendi a mão.
  Ela a apertou.
  - Bem... É... Um prazer conhecê-la t-também. - gaguejou.
  - Nós vamos deixar vocês conversarem sozinhos. - disse Emily - Eu e o Thomas vamos ficar lá fora.
  - Tudo bem.
  Sentamos no sofá.
  - Minha filha não disse que vinham aqui. Como é o seu nome?
  - Marcos, minha esposa se chama Diana. É que viemos pedir desculpas pelo que aconteceu, devíamos ter ligado.
  - Imagina. Ela é quem devia ter feito isso. Mas me senti aliviada dela estar com vocês, mãe sempre pensa o pior.
  - Eu que o diga. - disse Diana - Meninos são piores do que meninas.
  - Nunca experimentei ser mãe de um menino, então não tem como concordar ou discordar.
  Com o passar da conversa, a Diana ficou mais a vontade. - eu disfarçava e ficava olhando o relógio.
  - Está esperando alguém?
  - Estou. E digo que ele está demorando, o Fábio vem aqui!
  - O ator que vai fazer o filme com você? - perguntou Diana.
  - Ele mesmo. - ri - Ele vai adorar conhecer vocês.
  - Está falando sério?
  - Claro. Você pode até pedir um autógrafo.
  - Para você ou para ele?
  - Para os dois. - peguei um papel e uma caneta, assinei e lhe entreguei - Nós não nos importamos com isso.
  - Bem diferente de outros famosos. - sua mão tremia - Já pedi autógrafos para muitos e alguns são bem mal educados.
  - Ela é uma caçadora de autógrafos. - Marcos explicou - Uma porta do nosso guarda-roupa está cheio deles.
  - Eu também não escondo ser fã de alguns atores e atrizes, de cantores... Tenho muitas fotos e autógrafos.
  Alguns minutos depois, a campainha tocou.
  - Cruze os dedos. - eu disse a ela - Deve ser o Fábio. - só para dar mais sorte, cruzei os dedos também.
  Atendi. Era ele.
  - Fábio! Tem uma pessoa que está desesperada para te conhecer.
  - Quem?
  - Uma fã!
  Ela se aproximou.
  - Fábio, essa é Diana a mãe do Thomas. Diana esse é o Fábio.
  - Oi. Então você é a mãe do namorado da Emily? Muito prazer em conhecê-la.
  - O prazer é todo meu. - ela o abraçou.
  - Fábio, ela quer um autógrafo!
  - Onde tem um papel e uma caneta?
  - Aqui. - lhe entreguei.
  Ele assinou e entregou a ela.
  - Tchau. - ela e o marido abriram a porta.
  Demos de cara com a Emily e o Thomas se beijando.
  - Bem, acho que estão se despedindo, não é? - perguntei quando levaram um susto.
  Emily ficou extremamente vermelha, o abraçou se despediu e foi para dentro de casa.
  - Desculpe por ter interrompido o casalzinho, mas temos que ir embora filho.
  - Tudo bem, pai. Tchau.
  - Tchau.
  Esperei até atravessarem o segundo portão e fechei a porta.
  - Parece que seu irmão não deu um ataque por você ter que sair de lá, não é?
  - Ele se acostuma.
  - É. - e ia ter que se acostumar mesmo.
  Ele se sentou no sofá e eu fui pegar um copo de água. - tudo para criar coragem - Respirei fundo. Abri a torneira da pia para lavar o copo, mas não saiu nada.
  - FÁBIO! - chamei-o.
  - Que foi?
  - Acho que a pia está entupida, vou chamar o encanador.
  - Não precisa. Eu dou uma olhada.
  - Não me diga que é encanador?
  - Não. Moro sozinho e aprendi a me virar.
  - Tudo bem, mas não faça besteira.
  - Feche o registro.
  Fui até o outro lado da cozinha e fechei o registro.
  - Tem uma caixa de ferramentas do lado da pia.
  Ele começou a trabalhar. E, pela primeira vez, comecei a reparar nele. - cabelos incrivelmente pretos, olhos azuis da cor do céu. - Até que ele era muito bonito.
  - Pode abrir o registro. - interrompeu meus pensamentos.
  Quando abri o registro, a maçaneta da torneira voou longe e a torneira espirrou água para todos os lados. Fábio ficou todo encharcado. Fechei o registro e comecei a rir sem parar.
  - Era melhor chamar um encanador mesmo! Agora eu vi como você “se vira sozinho”.
  - Tudo bem, tudo bem. - torceu a camisa - Chame o encanador! - tirou a camisa.
  Minha boca se escancarou e a fechei no mesmo segundo. Desviei o rosto. - como ele pode ser mais bonito do que já é? - Respirei fundo e me virei de volta.
  - Agora você pega uma gripe!
  Peguei um pano e comecei a enxugar seu rosto.
  - Sua carreira de encanador termina por aqui.
  - Acho que sim.
  Enxugando seu rosto, ele fechou os olhos. - minha cabeça não parava de dizer para me afastar, mas, por incrível que pareça, não consegui - Fingi enxugar seu pescoço e fui deslizando o pano ali, me aproximei mais dele e o beijei.
  De inicio ele ficou confuso, mas logo sua mão estava na minha cintura.
  Seu beijo era delicado, ele acariciava meu rosto. Sua roupa estava me deixando molhada e eu me afastei.
  - Bom o que foi isso? - ele sussurrou no meu ouvido.
  - Não sei!
  Depois de eu dizer isso, ele me beijou mais uma vez.

12 - Colo de Mãe

  Todas as perguntas da minha cabeça não respondidas começaram a me assombrar. - Mas o que foi aquilo? Como não consegui me controlar? Isso não é uma coisa normal! Eu estou doente? Acho que estou delirando!
  Fomos até a casa dele juntos. - eu não suportaria vê-lo com gripe - Eu queria conhecer esse primo dele. E não deu outra: mal atravessamos a porta e ele apareceu.
  - Pelo amor de Deus, Guilherme, quando vai parar de me assustar desse jeito?
  Guilherme era o contrario do que eu esperava - eu pensava que seria parecido com o Fábio - mas ele tinha, mais ou menos, uns vinte anos.
  - Desculpe. E aí? Vai me apresentar a famosa Alice, a quem vejo na TV e voce   nao  mas, por incrivel s. você tanto fala?
  - Guilherme essa é Alice, Alice esse é o Guilherme.
  - Muito prazer. - dissemos juntos e depois rimos.
  - Eu vou para o meu quarto terminar de arrumar minhas coisas. - disse Guilherme - Espero que vocês dois não sintam minha falta. - e foi correndo para cima.
  Fábio me levou até o sofá.
  - E aí? Vai me explicar o que aconteceu na sua casa?
  - Não, por que nem eu consigo explicar.
  - Tudo bem. - Abaixou a cabeça.
  - Comprou livros novos?
  - Sim. Quer ver? Estão lá em cima.
  - Vou pegar uns dez emprestados.
  E não deu outra: emprestei, mais ou menos, uns treze.
  - Em quanto tempo lê isso?
  - Duas semanas. Ou menos.
  Ele estava do meu lado e não viu um copo atrás dele, tropeçou e segurou em mim para não cair, mas caímos os dois. Só não fomos para o chão, por que estávamos perto da cama.
  Deitados, começamos a rir sem parar. Ele olhou para mim e eu para ele. Quando ele estava se aproximando de mim, eu me levantei e peguei minha bolsa.
  - Eu tenho que ir - murmurei.
  Ele atravessou o quarto antes que eu pudesse me mexer e segurou meu rosto.
  - Eu tenho que ir, Fábio.
  - Não. - sussurrou e me beijou.
  Aquele momento era tão perfeito que nenhuma parte de mim foi capaz de impedir aquilo. Parecia que era para acontecer.

  No outro dia, fiquei sem acreditar que fui capaz de uma coisa dessas. Me levantei sem acordá-lo, coloquei minha roupa e peguei minha bolsa, mas quando estava indo embora, ele acordou.
  - Aonde você vai?
  - Embora. Eu não sei o que deu em mim para fazer uma coisa dessas, eu preciso ir.
  Mas ele se levantou e me beijou antes que eu pudesse dar um passo.
  - Não vá.
  - Eu tenho que ir. Emily deve estar preocupada comigo, hoje tem gravação e eu tenho que trocar de roupa. E, eu prometo que nunca mais vou ser capaz de uma coisa dessas, isso só vai te magoar mais, e magoar a mim mesma.
  - Você me fez o homem mais feliz do mundo!
  - E esse é o problema, não quero que você se engane!
  - Mas o que aconteceu ontem... ?
  - Foi a noite mais feliz que eu já tive, mas isso não muda nada. Tchau.
  Desci a escada correndo, mas ele me segurou.
  - Acha que eu vou deixar você ir assim?
  - Por favor, facilite as coisas.
  - Você sabe que me ama.
  - Eu te amo, mas não do jeito que você me ama.
  - Mas você me ama. É isso que importa.
  - Fábio...
  - Nada do que você falar vai mudar o que estou dizendo.
  Olhei para ele sem conseguir dizer nada.
  - Eu te amo tanto, Alice. Você vai realmente fugir de mim?
  Eu não conseguia encontrar minha voz.
  - Só quero que você entenda o que está em seu coração. Se não for amor, prometo que nunca mais vou insistir.
  Eu podia sentir o sacrifício por de trás da sua promessa.
  - Promete que vai pensar?
  - P-prometo. - Gaguejei.
  - Te vejo no estúdio?
  Balancei a cabeça afirmativamente. Ele me soltou e eu fui embora.
  Peguei um táxi. Respirei fundo para tirar as lembranças de ontem da cabeça.
  - Mudei de idéia, moço. Me leve para esse endereço aqui. - Lhe entreguei o endereço da Gabriela - Não se preocupe com o preço.
  Eu estava desesperada para desabafar com alguém.
  Entreguei o dinheiro ao taxista e toquei a campainha. Quando ela apareceu na porta, já ficou alarmada com a expressão no meu rosto.
  - O que aconteceu?
  - Lá dentro. Lá dentro.
  - Você está tão estranha.
  - Lá dentro.
  Sentamos no sofá.
  - Vai me contar o que aconteceu ou vai continuar com essa cara de quem está prestes a ser morta?
  - Estou com vontade de me matar nesse exato momento. - Tentei engolir o nó na minha garganta, mas parecia impregnado na minha garganta.
  - Você está me deixando assustada.
  Contei tudo o que aconteceu para ela. - Incluindo o caso da pia entupida, e ela começou a rir sem parar.
  - Pare com isso.
  - É impossível. Eu queria ter visto essa cena.
  - É. Essa cena não tem preço. - Forcei um sorriso.
  - Mas enquanto ao resto da história...
  - Seja boazinha.
  - Eu já estava esperando que isso acontecesse há muito tempo.
  Respirei fundo para não começar a discutir com ela, eu vim aqui para desabafar.
  - Vai. Me explica tudo o que está acontecendo nesse coração.
  - Absolutamente nada, é como se eu não tivesse coração, eu estou fazendo-o sofrer.
  - Não percebe que quem está sofrendo é você? Negando o que está evidente?
  - Por favor, não comece...
  - Alice, eu sei todo o seu discurso sobre não querer se apaixonar, sei também quais são seus infinitos motivos! Mas você acha que é justo magoar vocês dois por causa disso? Você sabe que o ama!
  Fitei o vazio.
  - Não acha que está na hora de superar o que aconteceu há muito tempo? Você tinha quinze anos e pretende carregar isso até o final da sua vida? Sinceramente, por que você não percebe que a felicidade está batendo à sua porta?
  Me levantei decidida a ir embora.
  - Essa é uma promessa que fez a ele! Descubra o que está passando em seu coração!
  A abracei, peguei um táxi e fui para a casa.
  Emily - eu já desconfiava - estava me esperando na porta.
  - Oi filha. - minha voz era monótona - Desculpe por não ter avisado que ia dormir fora. - Aliás, eu nem sabia que ia dormir fora.
  - Você dormiu na casa do Fábio, não foi?
  - O que te leva a pensar isso?
  - Eu vi vocês dois se beijando ontem na cozinha, que a faxineira acabou de limpar.
  - Bem... Você está certa.
  - É claro! - Revirou os olhos - Eu te conheço muito bem.
  - Muito mais do que eu podia imaginar. - murmurei tão baixo que ela não ouviu.
  - Por que está com essa cara?
  - Assunto meu. Se eu tiver cabeça, à noite eu te conto.
  - Vou cobrar. - Ela me abraçou - Espero que tenha seguido meu conselho. Vocês dois formam um casal lindo.
  Sem querer discutir com ela, fui para o meu quarto.
  A única que sabia dos meus motivos reais de não me apaixonar era a Gabriela. E eu não vou contar para mais ninguém.
  Cada vez que eu fechava os olhos - como se fosse para me enlouquecer - vinha na minha cabeça tudo o que aconteceu. - Como um filme passando mil vezes a mesma cena - É claro que eu estava apaixonada por ele - tive certeza disso desde ontem - mas eu não quero - e não vou - assumir isso. Eu já sofri muito por uma vida inteira. - Decidida a acertar as coisas, voltei para a casa dele.
  - Precisamos conversar. - Murmurei entrando - Cumpri minha promessa: vou te contar tudo o que está passando no meu coração e muito mais.
  Contei todos os meus sentimentos para ele, enquanto ele ficava paralisado sem acreditar.
  - Agora eu vou te contar por que não vou poder ficar com você.
  Seu rosto ficou mais triste quando eu disse isso.
  - Aos meus quinze anos, eu me apaixonei! E era um amor impossível, ele estava prestes a se casar com uma menina que ele tinha engravidado e amava. Aquilo me fez sofrer muito, e não quero sofrer mais ainda. - me levantei e fui embora.
  Mas eu tinha esquecido a bolsa na casa dele, então tive que voltar.
  Ele estava na cozinha conversando com o Guilherme. Comecei a escutar a conversa deles.
  - Estou me sentindo muito mal com isso. - disse Fábio - Eu me apaixonei realmente por ela, quando ela ficar sabendo...
  - De qualquer jeito meu primo, a aposta foi muito clara.
  Aposta?
  - Eu era infantil. - sua voz estava estranha - Como eu poderia brincar com os sentimentos de uma pessoa dessa maneira. Eu me apaixonei por ela!
  - A aposta era: Tentar conquistá-la em dois meses. Você conseguiu! Devia estar pulando...
  - ENTÃO TUDO NÃO PASSOU DE UMA APOSTA? - quase voei no pescoço dele - SEU CANALHA, IDIOTA. COMO FOI CAPAZ DE FAZER ISSO COMIGO?
  - Pergunte a ele. - apontou para o Guilherme.
  - O CASO NÃO É QUEM FEZ A APOSTA. E SIM QUE VOCÊ FOI CAPAZ DE CUMPRI-LA. EU TENHO NOJO DE VOCÊ! NOJO!
  Peguei minha bolsa e saí correndo. Por sorte tinha um táxi bem na porta.
  - Eu quero ir para esse endereço - minha voz estava sufocada por causa das lágrimas.
  O taxista ficou meio assustado com meu choro, mas - para o meu alívio - não disse nada.
  Quando está conseguindo encontrar a felicidade, a vida abre um buraco ainda mais fundo no seu coração. Eu estava cada vez mais próxima a uma vida feliz e perfeita só lado do homem que amo. Mas a ironia do meu azar atacou mais uma vez.
  Suas promessas de não me magoar foram todas em vão, como se ele fosse capaz de esconder essa farsa por muito mais tempo.
  Corri para o meu quarto e peguei o telefone.
  - Alô? Mãe? Onde você está?
  "O que aconteceu?"
  - Onde você está?
  "Estou indo pegar o avião para voltar para o Brasil."
  - Pelo amor de Deus, chega aqui o mais rápido que você puder, estou precisando da senhora.
  "Você está chorando"
  - Estou. Eu não quero te contar o que aconteceu por telefone, vem logo.
  "Já estou indo!"
  Desliguei o telefone e o joguei contra parede, ele se despedaçou.
  E pensar que eu ia ter que ir para o estúdio. Emily apareceu e se sentou ao meu lado.
  - O que aconteceu mãe?
  - Acabou.
  - Acabou o que?
  - O Fábio morreu para mim.
  Ela se deitou ao meu lado e eu coloquei minha cabeça no seu colo.
  - Me acorde quando for a hora de ir para o estúdio. - e afundei no sono.
  Nem nos sonhos, consegui tirar isso da cabeça. Aquela cena horrível me acordava dentro de algumas dezenas de segundos, então teve uma hora que eu desisti.
  - Não vou ficar aqui! - Eu ia chegar cedo, mas não suportaria ficar em casa.
  Quando o Fábio apareceu no estúdio, como uma criança mimada, fingi que ele não existia.
  Gravar com ele estava me dando nojo, mas tive que agüentar. Quando o estúdio estava vazio e só nós dois não tínhamos saído, ele me puxou para o canto.
  - Me solta seu idiota! Eu não quero mais olhar na sua cara!
  - Dá para me escutar?
  - Não! Agora vai me deixar ir?
  Ele me beijou e eu dei um tapa na sua cara.
  - Eu não quero mais que você me toque! Está sendo um sacrifício ter que gravar com você, então já estou satisfeita.
  - Alice...
  - Alice nada. - Comecei a soltar todos os palavrões possíveis - Você está morto para mim! Morto!
  Saí antes que alguém percebesse nossa discussão. Lutei contra as lágrimas até o meu carro, mas quando coloquei as mãos no volante, elas venceram a guerra. Esperei até parar de soluçar para ligar o carro. - Um acidente era tudo o que eu não queria agora! - Eu queria me enforcar me esfaquear, me matar de todas as maneiras possíveis. - E pensar que eu amo aquele cachorro sem vergonha!
  Dei ordens que ele estava proibido de entrar na minha casa ao porteiro.
  Esperei pela minha mãe na porta de casa. Quando chegou a noite e a vi chegando, assim que ela passou pela porta, corri para abraçá-la. - Nada melhor do que colo de mãe numa hora dessas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário